MIOPIAS POLÍTICAS… OU ALGO MAIS?

CRÓNICA DA QUOTIDIANA VIVÊNCIA – José Manuel Claro

 1 – O primeiro passo que um jornalista tem de observar na elaboração da peça que pretende ver publicada no jornal com que colabora, será sempre a escolha do tema, que tem de ser atual e aportar informação a todos aqueles que o irão ler.

A temática já aqui abordada, do novo Aeroporto de Lisboa, veio agora de novo a lume com a emissão prévia das conclusões a que chegou a Comissão Técnica Independente (CTI), nomeada pelo Governo, e que propõe uma solução intermédia de curto prazo, que se centra em três opções:

Desvio do tráfego civil para o Aeródromo de Cascais; desvio do tráfego militar, para uma Base Aérea que não interfira com a normal operação do Aeroporto Humberto Delgado (AHD), libertando assim as instalações do Aeroporto do Figo Maduro para a construção de um terceiro terminal; desvio das operações exclusivas de cargas e de tráfego charter não regular, para o existente Aeroporto de Beja (AB).

Quando tomámos conhecimento destas propostas de solução para melhorar a curto prazo a operacionalidade do AHD, igualmente constatámos que as medidas preconizadas se encaixam na perfeição, para o Aeroporto Gago Coutinho (AGC) em Faro, excetuado que seja o ponto do desvio do tráfego civil, que poderá igualmente passar a ser direcionado para Beja.

 

2 – Seja qual for o prisma de análise observado, realça aqui a centralidade do AB, que garantirá por muitos e bons anos, a operacionalidade das estruturas aeroportuárias existentes em Lisboa e Algarve, as principais portas de entrada do fluxo turístico, a vaca sagrada dos nossos rendimentos e que tanto influenciam o PIB português.

Poderão os lobbies instituídos, aduzir em causa própria, esta ou outra miraculosa solução, mas está bem visível a bondade de chamar o Aeroporto de Beja para a ribalta da nossa economia e assim trazer a reboque toda uma Região, dando seguimento às estafadas promessas de combate às assimetrias litoral / interior, existentes no nosso território.

Sabemos que essas promessas e intenções, porque só disso se trata, entram pelas nossas portas adentro, em alturas eleitorais, e que são esquecidas logo de imediato, após o ato do sufrágio consumado.

Quão feliz ficará a administração aeroportuária algarvia, quando tiver o seu espaço aéreo pejado de aeronaves repletas de turistas da Europa Central e do Norte e, em vez de os mandar aterrar em Sevilha, indicarem-lhes o caminho de Beja, numa operação mais segura e rápida, usufruindo assim das taxas que os nossos irmãos espanhóis lhes vêm entrar, pistas adentro, de mão beijada.

 

3 – Tal com referimos numa anterior crónica aqui publicada, somos adeptos da solução Beja, por tudo e mais um par de botas, como soe dizer-se.

Em relação a esta questão aeroportuária, igualmente por aqui, em tempos, traçámos um paralelismo com a construção da Barragem do Alqueva que, em muito pouco tempo mostrou à saciedade. a sua utilidade na gestão do enorme bem comum que responde pelo nome de água, tornando-se difícil hoje, perceber o porquê de tantos protelamentos que aquela obra mereceu.

Como entenderão as novas gerações, a tacanhez decisória dos nossos governantes que levaram décadas para se decidirem pela construção daquele lago que hoje, quem diria, dá água a meio mundo português, indiferente às alterações climáticas que se têm feito sentir?

Olhando para o conturbado mundo de hoje, que, insensível às variações climáticas, à sismologia que nestes últimos meses ceifaram milhares de vidas, e a toda uma conjuntura de guerra, fomentada por uns loucos que vão satisfazendo os seus mais desequilibrados devaneios mentais, destruindo vidas atrás de vidas, curiosamente todo este estado caótico em que estamos a viver, vai precisar, a breve trecho, do tal aeroporto que está construído em Beja!

Já foi assim na Guerra dos Seis Dias, na Guerra do Afeganistão e sê-lo-á na guerra agora começada e que, imaginem, ainda não tem nome definido.

Terminamos esta crónica, da mesma forma como terminámos a anteriormente publicada, recorrendo ao proverbial humor alentejano, e num paralelismo com o sucedido durante o impasse na construção do Alqueva, apetece-nos escrever num sítio muito visível das cercanias do excelente Aeroporto que Beja, uma lapidar frase do género: «ATERREM AQUI… PÔRRA!».     JMC