NEM A FÍSICA CONSEGUE EXPLICAR ISTO…

José Manuel Claro

1 – Arq de Siracusa foi, ao seu tempo (287 a 212 a.C.), um ser muito eclético quanto às áreas por onde dispersou o seu interesse intelectual – matemática, filosofia, física, engenharia, invenção e astronomia.

De um dos seus enunciados saiu o famoso “Eureka!”, expressão atualmente pronunciada em meios muito restritos e que, em vez de ser comunicada ao mundo como um avanço civilizacional, corre a ser vendida a quem melhor pagar, para com ela, a ideia, poder manietar o grupo de gentios a que se consegue aplicar, é o trabalho desenvolvido pelas grandes agências de informação

Como resultado destes comportamentos e de uma forma genérica, somos como que bombardeados ciclicamente com factos e representações que nos vão cativando e, principalmente, distraindo a atenção de tudo aquilo que nos deveria interessar enquanto coletivo social.

A ‘pièce de résistence’ que nos tem sido servida ao longo destes últimos tempos, tem sido o Inquérito Parlamentar à TAP, folhetim que nos tempos de antanho, teria dado uma radionovela de sucesso mais que garantido, só que não poderia ser patrocinada por um ‘Tide’ ou um ‘Omo’, cujas imagens comerciais assentavam, e ainda hoje assentam, numa eficiência como ‘tira nódoas’.

Quando os tais gurus do controlo de massas se começam a aperceber de uma certa saturação da classe popular a entreter, lá vão salpicando a ‘panela’ com um ou outro ‘faits divers’, como que refrescando o salteado e mantendo o apetite devorador de uma curiosidade coletiva que, de tão entretida que está, até se vai esquecendo de olhar para tudo aquilo que se passa à sua volta.

 

2 – Aconteceu um dia destes com as denúncias de assédio sexual no ensino superior, em que o tema em si não seria digno de qualquer relevância dada a sua transversalidade social, e nunca atingindo a magnitude do caso ‘Taveira’.

Mas, talvez fruto das mais descabeladas justificações que vão surgindo por parte dos visados e a que alguns órgãos de Comunicação Social vão dando cobertura, lá me conseguiu suscitar algum do pouco interesse que vou tendo disponível, as arremetidas justificativas do sociólogo Boaventura Sousa Santos.

Nos tempos da Revolução dos Cravos, e nos que se lhes seguiram, não havia telejornal ou entrevista onde não aparecesse aquele que era conhecido como ‘a vaca sagrada da Sociologia’ em Portugal e no qual me habituei a ver, no senhor professor, uma súmula de conhecimento numa área que, até aí, não tinha sido objeto de um interesse por aí além por parte da sociedade portuguesa.

Pois, o nosso professor, visado numas quantas denúncias de assédio, veio a lume pedir desculpas e invocando as suas bases educacionais, lá foi dizendo que no tempo dele a coisa era vista de maneira diferente, e mais isto e mais aquilo.

Um homem que dedicou uma vida ao estudo das evoluções sociais, dos comportamentos e que ficou conhecido na década de setenta pelo contributo dado à emancipação das mentalidades, vem agora alegar que tudo aquilo que então propalou aos sete ventos, era só teoria, e o que ficou a valer foi a casta educação dada pelos seus pais e pedagogos, quando frequentou os bancos da escola.

 

3 – Guardado estava o bocado para quem o haveria de comer, como diz o povo e ao cair do pano sobre a Comissão de Inquérito Parlamentar, o atual Ministro das Finanças, alardeando um comportamento de delfim cego que sempre não deixou de exibir, mas que vai sendo disfarçado pelas tais agências de imagem ao serviço do Governo, lá esboçou um pálido contra-ataque em direção aquilo a que toda a gente anda a chamar de partido líder da oposição.

Reconheço que o PSD também se pôs a jeito e ainda não tem essas ditas agências ao seu serviço.

Tê-las-á certamente quando e se for poder, pagas como estas atuais, com o dinheiro esmifrado aos contribuintes, encurralados por uma máquina asfixiante que lhes vai chupando tudo o que for possível. Tenho-me apercebido de que há como que um pacto entre o PS e o PSD quanto à partilha do ‘bolo Portugal’, e que basicamente consiste na aplicação do PRR pelo PS e a construção do novo aeroporto de Lisboa pelo PSD, mas só quando o atual Primeiro Ministro tiver finalmente conseguido um emprego lá fora e deixado um partido escaqueirado aos seus delfins que, perante a ausência do seu patrono e sem recurso à finanças atuais, terão de fazer um longa via sacra para tentarem pôr a mão de novo, no pote das moedas.             José Manuel Claro