Atassalhos, naufrágios e inquéritos… para quê?

CRÓNICA DA QUOTIDIANA VIVÊNCIA – José Manuel Claro

1 – Fazendo jus à passagem do astro-rei pelo equador celeste, a hora pela qual nos regemos, avançou em sessenta minutos.

Em anteriores anos, era usual a vinda a lume da tradicional dicotomia opinativa sobre os prós e contras de tal medida. Este ano nem dei por ela, ou por andar distraído ou porque outros valores mais altos se levantaram no interesse de uma sociedade que se movimenta cada vez mais de forma amorfa e subjugada aos ditames da sobrevivência.

Aqui e ali vão surgindo casos políticos que, na verdade, mais não são do que ‘fait divers’ que, cada um a seu modo, vão sacudindo a sociedade cujo torpor, se sobrepõe às medidas que deveriam ser tomadas em nome da sanidade dessa mesma sociedade.

Diariamente, levo o meu neto à escola e cruzo-me com imensos pais e mães naquela corrida azáfama matinal e, foi esta semana que dei comigo a pensar: para quê tudo isto?

Derrotista? Não! Realista talvez, porque sou um dos felizardos que depois de cumpridos os meus deveres familiares, posso dar uma vista de olhos ao mundo que me cerca movimentando-se à minha volta.

Desde a última crónica que por estas páginas publiquei, dois factos marcantes me saltaram ao caminho e ambos com laivos de telenovela – o caso do navio patrulha Mondego e a Comissão de Inquérito Parlamentar à TAP.

 

2 – Quanto ao episódio do Mondego, ele seria hilariante se não lhe tivesse subjacente a nossa condição de Portugueses enquanto Nação soberana e independente.

Atrever-me-ei a ficcionar uma pequena história que poderá parecer descontextualizada, mas face às condicionantes em que se desenrolaria a operação, não fora a recusa na sua execução, poderia muito bem ter sucedido, levando em conta os posteriores acontecimentos.

“O inimigo aproximou-se, do nosso território, numa atividade de espionagem.

 Militarmente é dada ordem ao navio ‘Mondego’, fundeado na Madeira, para ir ao encontro do invasor, numa missão de dissuasão e de afirmação da nossa soberania.

Partindo do princípio de que a tripulação não se teria recusado a cumprir as ordens superiores, aí teríamos o nosso escudo dissuasor ao encontro do espião russo.

Frente a frente com o inimigo, o ‘Mondego’ ficaria com os motores parados e sem energia a bordo. Ao abrigo da legislação de socorro a náufragos no alto mar, imediatamente seriam içadas as bandeiras de pedido de auxílio e lançados uns quantos ‘very lights’, com o mesmo fim.

O nosso Mondego entraria no porto madeirense a reboque do navio espião russo que, nessa situação, ainda se arriscava a ser louvado pelo nosso Comandante Chefe das Forças Armadas.

Não seria pelo reboque que o País se humilharia, uma vez que ‘a reboque’ andamos nós e há muito!

 

3 – O Inquérito Parlamentar à TAP, transmitido no canal de televisão do Parlamento, está a disputar as audiências a todos os restantes canais que se vêm em palpos de aranha nessa competição.

Diz o povo, na sua empírica sabedoria que «onde todos pagam, nada é caro» e, à medida que desfilam os depoimentos assim se constata.

A cada dia, com novos inquiridos se clarifica o verdadeiro interesse de uma nacionalização que nos custou ‘os olhos da cara’.

Será que este show não nos está a ser oferecido para nos distrair da execução do PRR, cujo resultado se saldará por mais uma batelada do meu, nosso, dinheiro que terá de ser devolvido à CEE?

 

Jornal 829 de 20.04.2023