A Reserva, a Cidade e o Futuro.

O Futuro:

Se no início foi a indústria que originou a construção desta Cidade Nova, o Turismo, por seu turno, emergiu nos últimos anos como um outro sector que pode alavancar o desenvolvimento de Santo André e de todo o Litoral Alentejano. As perspetivas de crescimento são uma certeza que ganha cada vez mais preponderância. Veja-se os exemplos – maus em boa verdade – de projetos turísticos que estão a nascer a norte de Melides. O Litoral Alentejano é um dos novos El Dorados do Turismo em Portugal.

Em resultado desta expectativa, e também de outros fatores, a pressão imobiliária nesta região tem vindo a aumentar. Um pouco por todo o lado, vemos este fenómeno crescer sem conseguirmos entender a lógica racional que o sustenta. Em Santo André, as poucas casas à venda, não valem certamente os valores que são anunciados!

Em conversas que tenho tido com algumas pessoas (amigos e empresários), este tem sido um tema recorrente. Cada um apresenta as suas opiniões e soluções. Para algumas pessoas, o facto de Santo André viver “paredes meias” com a Reserva Natural é uma vantagem para a Cidade, enquanto que para outras é uma condicionante ao seu desenvolvimento.

Esta dicotomia de opiniões desemboca na questão central de toda esta narrativa:

Deverá a Reserva Natural ser sacrificada por forma a permitir o desenvolvimento de Santo André?

As opiniões favoráveis não têm cor política. O arco iris político está quase todo virado para o “sim”. Sim, o desenvolvimento da Cidade Nova, i.e. a sua expansão urbanística, deveria ocorrer para litoral, para junto das praias da Vacaria e Areias Brancas. Esta opção, sendo a mais fácil em termos teóricos, iria potenciar um desenvolvimento mais acelerado, considerando as vantagens resultantes de ter o mar e as praias como elementos integrantes da paisagem e vida urbana.

Já imaginaram a quantidade de moradias e mansões que se podia construir nos pinhais que que intercalam as estradas de saibro? E talvez até um campo de Golfe!

Não se desenganem. O cerco em volta da Reserva Natural está a apertar. As “garras” do imobiliário já estão a coçar as costas da Reserva. A norte, mais precisamente acima da Lagoa de Melides, vários são os projetos imobiliários em curso e outros se seguirão.

A outra alternativa, e é a que considero ser a estratégia mais adulta, consiste em não alterar os limites da Reserva Natural. Quando necessário, Santo André poderá crescer para o interior, mais precisamente para os terrenos atualmente pertencentes ao Estado. Esse crescimento deve ser devidamente planeado para que (i) salvaguarde a qualidade de vida e (ii) garanta o respeito pela Natureza, encarando esta como elemento central do bem-estar da população.

Esta opção pela defesa da Natureza não deve ser encarada como um fim em si mesmo. A manutenção dos atuais mecanismo de preservação e protecção da Reserva Natural deve ser entendida como uma base para a construção de todo um edifício que ainda está por edificar: a união entre a urbanidade e a natureza.

Santo André e a Reserva Natural nasceram do mesmo contexto, mas parece que são gémeas separadas à nascença. Parece que “Santo André está aqui” e a “Reserva está ali”. Se queremos manter a Reserva inalterada e ao mesmo tempo que esta seja um importante elemento identitário da Cidade, então temos que encontrar estratégias que promovam uma relação mais intensa e lucrativa para ambas. Por este motivo, talvez seja necessário rever algumas restrições atualmente em vigor, para que seja possível alcançar uma maior ligação da população com a Reserva. E é com esta deixa que se iniciam as conclusões deste artigo.

Elenco agora algumas propostas tendo em vista, não só a melhoria das atuais condições de preservação da Reserva Natural, como também intensificar as ligações da população com esta área protegida, a saber:

  1. Melhoria dos acessos às praias com a inclusão de estacionamento pago nos meses de verão;
  2. Construção de ciclovias;
  3. Permitir a concessão de apoios de praia nas Areias Brancas e na Vacaria;
  4. Promover eventos que estimulem o envolvimento da população com a Reserva. Veja-se o bom exemplo das campanhas de limpeza das praias organizadas pela Associação Litoral Aventura.

Em jeito de conclusão … Santo André tem todas as condições para ser encarada como um exemplo de uma Cidade que soube crescer em perfeita harmonia com o meio ambiente. Uma Cidade que soube preservar a qualidade de vida da sua população sem danificar a Natureza. Sim … uma Cidade do Futuro.

Bertolino Campaniço (jornal 828 / 829)

 

Nota: este artigo contempla textos disponíveis no Blogue http://santoandre.blogspot.com que são da pertença do mesmo autor.