Entrevista: Arsénio Salvador-Diretor-Geral da Repsol Polímeros em Sines

“Com a construção destas duas novas unidades, está previsto um aumento da produção destinada à exportação para mais do triplo da atual”

Com presença expressiva em Portugal desde 1990, é uma das 10 maiores empresas nacionais. A Repsol desenvolve a sua atividade nas áreas Industriais, mais concretamente na Química, onde é uma das 10 maiores exportadoras do país, nas áreas Comerciais, através das mais de 500 Estações de Serviço, do GPL, dos Lubrificantes, Asfaltos e outros produtos energéticos, Aviação e Marinha. Está ainda presente no setor das Renováveis, através do WindFloat Atlantic (primeiro parque eólico flutuante da Europa Continental). É uma empresa multinergia internacional, comprometida com a transição energética e o desenvolvimento de soluções eficientes e sustentáveis. Em 2019, como prova do seu comprometimento com a sustentabilidade do planeta e a transição energética, foi a primeira empresa do setor a anunciar o objetivo de zero emissões líquidas de CO2 em 2050.

Em entrevista ao Jornal “O Leme”, Arsénio Salvador, Diretor-Geral da Repsol Polímeros em Sines, falou dos investimentos, das novas fábricas, do ponto de situação do projecto de expansão do Complexo Industrial de Sines, dos desafios futuros, a criação de novos empregos, da formação dos colaboradores entre outros pontos importantes.

Leme: Qual o ponto de situação do projeto de expansão do Complexo Industrial de Sines?

Arsénio Salvador: Neste momento, o projeto de expansão do Complexo Industrial de Sines encontra-se numa fase de conclusão dos processos de licenciamento e de seleção e contratação das empresas fornecedores. Tramites importantes num projeto com esta magnitude e importância. Estamos a falar do maior projeto industrial em curso, neste país.

Temos conseguido seguir os planos iniciais, por forma a concluir o projeto em 2025, seguindo o nosso ambicioso Plano Estratégico 2021-2025, que contempla um grande investimento na Química e na Indústria.

Estamos a transformar os nossos complexos industriais em centros multienergéticos, equipando-os com as mais recentes tecnologias que lhes permitem descarbonizar os seus processos, através da melhoraria da eficiência energética, do impulso da economia circular, da produção de hidrogénio verde e captura e utilização de CO2.

A ampliação do Complexo Industrial de Sines, com a construção das duas novas fábricas de polietileno linear (PEL) e de polipropileno (PP), cada uma com uma capacidade de 300.000 toneladas por ano, vai gerar produtos 100% recicláveis que podem ser utilizados para aplicações altamente especializadas, alinhadas com a transição energética nas indústrias farmacêutica, automóvel ou alimentar.

L: O que levou a Repsol a voltar a apostar em Sines?

A.S.: A aposta da Repsol em Sines vem desde 2004. Demonstramos, com a nossa entrada no Complexo Industrial de Sines, que acreditamos no enorme potencial de Sines para ser uma das regiões industriais mais dinâmicas da Europa. O mais recente investimento apenas corrobora esta nossa visão.

O nosso Complexo Industrial, pela sua localização geográfica estratégica, a proximidade ao porto de Sines, onde operamos o Terminal Petroquímico, tem várias vantagens associadas. Numa altura em que estamos claramente comprometidos com a transição energética, este projeto faz todo o sentido.

Este investimento, tornará o Complexo Industrial de Sines num dos mais avançados, com tecnologias vanguardistas e líderes no mercado. Aumentará, também, as sinergias na área industrial da companhia, que já funciona com um elevado grau de integração logística e comercial, e uma operação conjunta altamente eficiente. Além disso, contribui para que a Repsol avance com o seu objetivo de ter uma indústria química mais integrada e diversificada, com produtos de alto valor acrescentado.

L: Quando a obra estiver concluída, o que poderá a região e o país ganhar?

A.S.: Sines, que demonstra já uma grande versatilidade e dinâmica industrial, reforçará o seu posicionamento de grande polo industrial da Europa. Com a construção destas duas novas unidades, está previsto um aumento da produção destinada à exportação para mais do triplo da atual, estimando-se um tráfego de oito comboios por semana para Espanha e de quatro comboios por semana para o Terminal XXI do Porto de Sines.

A atividade industrial, como temos comprovado nos últimos tempos, é de grande importância na criação de emprego de qualidade, não deslocalizável, competitividade e riqueza para o país, e será capaz de continuar a fornecer à sociedade os bens de que necessita, mas com uma pegada de carbono baixa, nula ou mesmo negativa.

Com este investimento, a Repsol torna-se um dos maiores investidores nacionais. Os efeitos diretos e induzidos terão um impacto direto na balança comercial, podendo contabilizar mais de mil milhões de euros, entre aumentos das exportações e reduções de importações. Ao impacto direto deste investimento na balança comercial, acrescerá o decorrente do efeito multiplicador da disponibilização, em volume e proximidade, de matérias-primas indispensáveis à competitividade e ao crescimento da indústria transformadora de importantes setores exportadores, como, por exemplo, as indústrias farmacêutica, automóvel ou alimentar.

L: A criação de emprego é importante para a região. O que estão a fazer a este nível?

A.S.: O nosso Complexo Industrial em Sines emprega mais de 500 pessoas. Desde 2019, já contratamos mais de 190 pessoas e contamos recrutar mais 67 pessoas até ao final de 2022, numa lógica de renovação geracional e contratação para as futuras unidades industriais. Mais uma vez, e porque é importante reforçar, são empregos de qualidade, não deslocalizáveis.

Para além destes empregos, durante a fase de construção das duas novas fábricas, estima-se a criação de uma média de 550 empregos diretos, com momentos que poderão chegar a mais de 1.000 pessoas. Na fase de exploração, o aumento de pessoal será de cerca de 75 empregos diretos e 300 empregos indiretos. Todos os postos de trabalho mantidos e criados serão qualificados.

L: E na vertente da formação?

A.S.: Na Repsol, o processo de formação é contínuo, a todos os níveis. Queremos que as nossas pessoas sejam as mais qualificadas, na vanguarda do conhecimento, pelo que temos desenhados vários planos de formação, tendo em consideração as diferentes áreas.

Recentemente, em parceria com o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), promovemos um novo curso de formação profissional de Técnico de Operação para Unidades Industriais (OPUI). Este curso capacitará os jovens para um elevado desempenho, assegurando uma operação industrial com elevados níveis de Segurança e Ambiente, Integridade e Disponibilidade dos ativos, e respeito pela comunidade envolvente.

L: Como tem sido estar à frente de um complexo industrial que receberá o maior investimento industrial dos últimos 10 anos em Portugal?

A.S.: É, sem dúvida, uma grande responsabilidade, que abracei desde o primeiro momento. Todos os dias, neste Complexo Industrial, são produzidos materiais poliméricos que são indispensáveis para o dia a dia das pessoas.

Com grande orgulho, lidero uma equipa de pessoas extremamente dedicadas, que estão comprometidas com o desenvolvimento sustentável da sociedade e alinhadas com a visão da Repsol para o futuro, no seu roteiro de neutralidade carbónica até 2050, que o projeto de expansão é parte integrante.

 Fátima Moita