“… Podemos e devemos continuar a discutir livremente…”

Presidente da CMO Hélder Guerreiro

Hélder Guerreiro, Presidente da Câmara Municipal de Odemira

Hoje, mais do que nunca, importa reforçar a mensagem de que a liberdade que conquistamos em 1974 deve ser entendida como um processo permanente de construção de uma comunidade livre e justa.

Hoje, passados 50 anos de termos conquistado a democracia, são muitos aqueles e aquelas que não viveram o antes e o durante o 25 de Abril de 1974. É por isso que a liberdade que conquistamos exige, para além de reavivar a memória, um permanente debate sobre os valores que presidem a uma comunidade livre e justa. Mesmo que deixemos de ter testemunhos do nosso “antes de 25 de Abril” podemos e devemos continuar a discutir livremente o que representa viver em democracia e como nunca podemos admitir que existam pessoas invisíveis numa comunidade que se quer justa. Importa robustecer a resiliência da nossa comunidade, no sentido de que as comunidades retiram aprendizagens positivas de processos traumáticos e isso faz-se discutindo, conversando e celebrando sempre com propósito.

A possibilidade de discutirmos de forma livre o nosso futuro coletivo, umas das principais heranças do 25 de Abril de 1974, tem vindo a construir uma nova comunidade. Uma comunidade que participa de formas muito diferentes e por múltiplos canais nos assuntos que lhe dizem respeito tornando mais difícil, a quem governa, uma perceção sobre os sinais de descontentamentos e/ou de conforto. Uma comunidade cada vez mais informada, mas mais sujeita aos fenómenos de desinformação. Uma comunidade cada vez mais qualificada, mas com enormes desigualdades ainda por resolver.

Outra das heranças do 25 de Abril de 1974 foi a democratização do acesso aos serviços públicos de interesse geral como a saúde, educação e justiça. Sendo este um dos processos em permanente construção que tem vindo a contar com um contributo cada vez mais decisivo do poder local democrático – outra das heranças do 25 de Abril de 1974 – é um dos que mais tem contribuído para a melhoria das qualificações, para o bem-estar e para o sentimento de segurança e justiça nas comunidades.

Sei bem que o acesso aos serviços públicos de interesse geral, a par da participação cidadã informada, é um dos processos mais exigentes da nossa jovem democracia. É exigente porque é decisivo ao bem-estar das pessoas e porque vive confrontado com a diferença entre a velocidade com que ocorrem mudanças demográficas e tecnológicas e a capacidade institucional de adaptação e promoção de novas respostas a essas mudanças. É nesta capacidade de resposta das instituições democráticas que reside muito do sucesso futuro da herança do 25 de Abril de 1974.

Entretanto, em Odemira celebramos sempre, de forma muito intensa, o 25 de Abril. Celebramos porque as pessoas sempre quiseram celebrar o 25 de Abril. É bem verdade que os decisores políticos contribuíram organizando e promovendo esta celebração, mas a participação de muitos milhares todos os anos foram dando significado e centralidade a Odemira na comemoração do 25 de Abril. Hoje, Odemira, é, sem sombra de dúvida, o centro da celebração do 25 de Abril no nosso Litoral Alentejano porque as pessoas e os autarcas (seus representantes) aos longo destes 50 anos assim o quiseram.

Hélder Guerreiro

Suplemento 25 de abril – Leme 852