Santiago e a génese do automobilismo – A nossa rede social

Aconteceu no dia 24 de Julho a primeira edição das Tertúlias de Santiago sob o tema Santiago no Pioneirismo automóvel em Portugal – Dos Hipómoveis aos Automóveis, com agradecimentos a fazer à Fundação da Caixa Agrícola da Costa Azul, aos patrocinadores e claro ao orador.

Lá se reuniram cerca de 6 dezenas de pessoas para ouvir o Ricardo d’Assis Cordeiro, apoiado num impressionante acervo de fotografias, discorrer sobre a história do automóvel; e de como foi possível, logo em 1895, termos o “nosso” Panhard et Levassor em Portugal e entre as gentes de Santiago. Isto num momento histórico em que os pais desta tecnologia – os alemães Gottlieb Daimler, Karl Benz e os franceses Pierre Panhard e Emile Levassor –  estavam ainda a dar os primeiros passos na afinação e produção dos seus veículos auto-propagados e movidos a motor e combustão.

Ficámos a saber que os nossos avós, os Santiaguenses da altura, puderam conviver com essa nova e revolucionária tecnologia, no mesmo ano em que o automóvel, também um Panhard et Levassor, chegou ao Reino Unido, pelas mãos do inglês Evelyn Ellis; e 1 ano antes do primeiro carro ser matriculado em Espanha (1896) e 3 anos antes dos habitantes de Tóquio terem acesso à tal prodígio tecnológico (1898).

É interessante pensarmos que o automóvel com motor de combustão, naquele longínquo final do séc. XIX, ter chegado ao contacto dos nossos avós santiaguenses, seria o equivalente a termos hoje nas nossas ruas o telescópio espacial James Webb; ou a sonda espacial Tianwen-1, que está a estudar Marte; ou haver por aqui empresas a trabalhar ativamente sobre a tecnologia do Blockchain, ou mesmo a criar aplicações para o metaverso.

O Santiaguense Jorge d’Avillez foi um pioneiro do automobilismo, mesmo à escala global.

Também nos faz pensar que tendo Portugal, e Santiago (claro), tido acesso a tal tecnologia tão cedo e tão perto da sua génese, não tenha conseguido industrializar o conceito e produzir automóveis próprios.  Algo que, por exemplo, aconteceu no Reino Unido, onde logo em 1892 Fredrick William Bremer, iniciou a construção do primeiro carro britânico que viria a ser conduzido pela primeira vez em 1894. Ou nos Estados Unidos, onde em 1897 Ransom Eli Olds fundou a Olds Motors Works (que mais tarde seria renomeada Oldsmobile).

Além das curiosidades ligadas ao primeiro automóvel, testemunhámos a paixão dos alentejanos, muitos deles de Santiago, Grândola, Portalegre, etc. pelo automóvel. Soubemos que muito do testemunho fotográfico da altura se deve ao fotografo santiaguense Hidalgo Vilhena. Entre outras escutámos a história atribulada do Hispano-Suiza H6C 8lt competition, o mais rápido carro produzido na década de 20, comprado em 1925 por José Bandeira, um dos sócios do burlão Alves dos Reis, do Banco Angola & Metropole. Mais tarde este carro veio a ser adquirido pelo Santiaguense Jorge Ribeiro de Sousa (“O Condinho”) e andou por Santiago até ao inicio da década de 70, altura em que foi vendido para Inglaterra.

Ouvimos também falar do empreendedorismo automóvel dos santiaguenses, pela constituição da empresa automobilística de Santiago de Cacém, “gerida por José Sobral Rodrigues” que logo em 1906, fazia a carreira entre Sines – Santiago do Cacém – Setúbal e Lisboa com o seu autocarro Panhard.

Esta foi sem duvida uma primeira edição muito interessante, sobre um assunto que a muitos fascina e a todos orgulha. Após a apresentação do Ricardo d’Assis Cordeiro (notem que é possível vê-la ou revê-la no Facebook da Santiago Global https://www.facebook.com/santiagoglobal2018/videos/731786947908410 ) seguiu-se um período intenso de perguntas e de testemunhos sobre os automóveis citados e outros exemplares da nossa história, que ainda continuou no beberete oferecido pelos patrocinadores e que aconteceu após o encerramento da edição.

A organização da Associação Santiago Global classifica como um enorme sucesso esta primeira edição das Tertúlias de Santiago e reitera o seu propósito de dar continuidade a este projeto a acontecer bimestralmente em todos os meses ímpares.

A Santiago Global ambiciona fazer das Tertúlias de Santiago, a “nossa rede social”, i.e., um espaço para conversas informais e participadas de troca de informações e opiniões sobre temas Interessantes e úteis como sejam: o desenvolvimento social e económico, a história, o desporto, o associativismo, a música, o teatro, a comunicação, a saúde, etc..; Atuais, mesmo quando abordamos temas da história, procuramos fazê-lo de uma perspectiva atual, viva e de como a história influencia e explica o que somos hoje; e por fim, que possam proporcionar a partilha de conhecimento, mas também o contributo de todos os participantes e o refletir em conjunto sobre os temas em debate, ou seja, que as Tertúlias sejam uma Oportunidade de Saber e Pensar.

A Santiago Global tem alguns temas e oradores “em carteira” mas exatamente porque pretende que este seja um projeto participado, está e estará disponível para sugestões, a enviar para o email associação.santiago.global@gmail.com.

Rogério Ferreira do Ó

Presidente da Direção da Associação Santiago Global