Crónica da Vida Quotidiana: Prorrogativas de um reformado destruídas por um orçamento???…

José Manuel Claro

Um reformado é… por definição comummente aceite… aquele ser que tem tempo para tudo menos para aquilo com que sempre sonhou ou sonha…

José Manuel Claro

Essa minha crónica aborda algumas das causas dessa falta de tempo advinda de variadíssimos fatores e… só para citar os mais corriqueiros – a família sempre pendurada na minha hipotética disponibilidade… os cuidados com os espaços verdes da casa após a rescisão do contrato de manutenção com a empresa que até à data da reforma me assegurava esses trabalhos e… a Comunicação Social e muitas das vezes a pessoal que mantenho com os meus concidadãos…

Se a Comunicação Social está perfeitamente enquadrada pelo jornal “O Leme”… o boletim da Associação de Reformados da Petrogal e uma ou outra fugaz colaboração com a Rádio Cidade Nova… já com a comunicação pessoal a coisa “pia mais de fininho” como soe dizer-se…

Por volta de 2013 comecei a escrever como catarse de uma condição social que me assaltou a quotidiana existência… a perda de um ente querido e… fi-lo de uma forma muito enquadrada numa interpretação filosófica dada por Aristóteles (384 / 322 a.C.) e que andou lá pela Academia de um tal Platão… tudo rapazes dados ao pensamento…

Ora… dizia esse tal de Aristóteles que «catarse é a purificação sentida pelos espetadores durante e após uma representação dramática» e… se transpusermos esse conceito para a escrita com que comunico convosco… estará encontrada a justificação porque é que estas crónicas quinzenais funcionam como uma minha catarse…

Mas não será esta colaboração jornalística que me ocupará assim tanto tempo… não!!!… diariamente igualmente publico lá para os lados do Facebook uma folha do “Meu querido diário” onde vou registando as minhas vivenciais incidências e estados de espírito quotidianos…

Aqui chegado definiria esta minha outra atividade como “a tirania do quotidiano”… tal o empenho e devoção que ponho nestes escritos interpretando-os como uma ponte que me leva até vós e logo eu que sou um ser eminentemente social e que só em sociedade consigo viver… como todos nós aliás!!!…

Estando assim feita uma radiografia muito superficial às causas da minha constante falta de tempo será talvez chegada a oportunidade de explicar-vos a segunda parte do título desta crónica…

Enquanto escrevo tenho sempre como pano de fundo umas melodias oriundas lá dos lados do jazz… melodias essas que funcionam como muralha dissuasora de contaminações externas do meu espírito… mantendo-o focado na comunicação que quero e tenho necessidade de estabelecer convosco…

Só que no dia desta escrita… involuntariamente… sintonizei o debate de apresentação do Orçamento do Estado para 2022 e… foi uma catástrofe!!!…

O meu espírito entreolhou-se… a verve criativa começou a assobiar para o lado e afastou-se como se não fosse necessária ao ato criativo que eu estava a executar… a minha proverbial boa disposição amuou… digamos que o céu se abateu sobre a minha cabeça…

Eu tenho um especial gosto pelas artes mas… quando elas são dadas ao público com a elevação moral que esse mesmo público merece… agora… da forma a que eu assisti naquele plenário sustentado por mim durante a vida dita ativa e mesmo agora depois de reformado… generosamente acrescentarei… parei imediatamente de redigir e esvaiu-se-me a vontade de continuar a passear os meus dedos sobre o negro teclado para “catarsear” fosse o que fosse convosco…

Há coisas que… pela forma como acontecem ou pela forma como surgem… me vão tirando a proverbial alegria com que quotidianamente tento viver…

Vamos lá rapazes… mais respeito por aqueles que toda uma vida se sacrificaram por vós e que estão dispostos a continuarem esse sacrifício em prol de uma maior justiça social e que mais não aspiram do que a terminarem a sua vida com um sorriso nos lábios e um espírito esplendoroso de felicidade… temos direito a isso!!!… não se esqueçam…