Posso dizer-vos que foi entrada por saída… e não fora um certo abanar de uns quantos instrumentos musicais por parte das pessoas que me acompanharam nesta despedida do ano velho e a chegada do neófito ninguém teria dado pela troca do calendário…
José Manuel Claro
Entreabri a porta que dá para a rua para deixar entrar o novo ano e… qual não foi o meu espanto… o velhote aproveitou esse franquear de saída e… esgueirou-se confundindo-se com o breu da noite…
Partindo à socapa e para quem o viu a tentar esgueirar-se a coberto do anonimato até parecia um ano envergonhado como seu currículo…
Ainda consegui retê-lo logo após a transposição portal e… à laia de conforto… sempre lhe fui dizendo: «para quê isso???… não foste melhor nem pior do que os outros… tiveste as tuas incidências negativas… sei que estás envergonhado com a nova estirpe do “sars cov 2” que nos trouxeste mas… c’os diabos… os teus antecessores trouxeram-nos coisas bem piores em termos pandémicos»…
De nada valeram estes meus considerandos de conforto porque… no fundo… ele entendeu que ao proferir estas palavras eu estava a querer dizer que ele tinha sido apenas mais um… igual a tantos outros que por nós têm passado»…
Estávamos neste disse que disse quando… de uma forma incisiva e como querendo levar tudo à frente… surgiu o novato 2022… com as matizes coloridas de algum fogo de artifício e muita festa à mistura e ignorando as recomendações das Autoridades da Saúde sobre os deveres de confinamento e obstrução à propagação da nova estirpe bichosa reinante…
Ainda com a mão sobre o ombro do ano velho lá o confortei: «não fiques triste… sabes que ele é novo… não tem experiência e depois cedo se aperceberá deste seu irrefletido comportamento»…
Já não me ouviu ou então não prestou muita atenção a estas minhas últimas palavras… cabisbaixo lá continuou o seu caminho para a prateleira da história…
Voltei para a sala onde os meus companheiros de jornada brindavam ao noviço que com eles se envolvia em “pangalhadas” e festejos destinados a afugentarem os maus agoiros deixados pelo ano acabado de sair… como se isso fosse possível!!!…
Há certos aforismos que… pensados na hora certa… nos poupariam desvios comportamentais e gastos de energia… sim!!!… porque coletivamente nada podemos fazer contra a roda do tempo e… depois sempre há aquele “dito”: «já vem detrás quem nos empurra»…
Aqui chegado… aflorou-se-me à memória uma canção do Fausto que como refrão cantava: « que atrás dos tempos vêm tempos / e outros tempos hão-de vir»…
Os tempos… a roda do tempo… serve-se dos anos para fazer passar esses tempos pela nossa existência… daí talvez a comiseração que eu manifestei ao velho que de uma forma assaz envergonhada tentava partir despercebidamente em busca do seu lugar na prateleira dos tempos…
E já agora… rapazote… não penses que a vida são só “festas e pangalhadas”… não!!!… e olha que vais ter um início muito atribulado com eleições e tudo!!!…
Depois… irá acontecer o que já se desenha no horizonte… a infeção coletiva como forma de criarmos os anticorpos residentes e resistentes ao “bicho”…
Após uns gastos brutais do dinheiro que não temos… após terem feito de mim um chouriço… de tantas vezes picado… andam agora a insinuar que isto ficará melhor se eu andar por aí às lambidelas a tudo o que são focos infeciosos e de quantas mais variedades melhor…
Como vês… tal como o teu irmão que partiu… tu pouco mais conseguirás fazer contra os poderes políticos instituídos… e contra as medidas tomadas de acordo com interesses da razão que até a própria razão desconhece…
Olha… não desanimes e já agora… que eu esteja junto à porta quando chegar o tempo de partires… sempre quererei despedir-me de ti porque… no meio de tudo isto… tu serás o menos culpado!!!…