Editorial: A vida nova

Abílio Raposo
Diretor

Quando pensamos nesta pandemia que estamos a viver, vêm-nos ao pensamento, e já ouvi muitas conversas sobre isto: a vida já não será como antes da pandemia. Será mesmo isso? Terá algum fundo de verdade essa afirmação?

Pois não sei dizer ao certo, mas sempre podemos pensar e analisar um pouco daquilo que aconteceu e do que esperamos do mundo. Se olharmos para o passado vemos que já acontecem muitas situações semelhantes a esta. Grande parte de nós viveu os seus 40 ou 50 anos sem qualquer guerra ou cataclismo ou pandemia que o afetasse. Mas muitos outros já viveram situações de grande pânico.

O que nos leva a pensar que nós sentimos as coisas e os acontecimentos muito na hora em que acontecem, mas logo que passa começamos a esquecer e renovamo-nos. Pois seria uma ótima oportunidade para renovarmos a nova vida em sociedade. Tentar esquecer e deixar de fazer aquilo que nos afasta uns dos outros e procurar viver mais a vida em comunidade. Procurar cada um ser para o outro como se de nós mesmos se tratasse.

Pode ser uma oportunidade única. Vamos tentar valorizar o que se constrói e não o que nos afasta e destrói. Procuremos nos unir para que possamos enfrentar outros desafios, mas com mais força e solidariedade. Uma vida nova deve surgir deste tempo que vivemos. Depois de lançada a semente à terra, ela tem de morrer para que nova vida surja. Assim também depois deste sofrimento que temos passado, deste distanciamento físico que nos é imposto.

Devemos pensar em renovar a nossa vida, pensar efetivamente naquilo que nos constrói e nos unifica. Aquilo que, agora nos aproxima, não só fisicamente, mas também o que nos une espiritualmente, psicologicamente e culturalmente. E será assim que se valoriza o que perdemos no sofrimento. Florescerá nova sociedade com nova vida. Não devemos perder esta oportunidade que nos é dada.