Editorial: Novas descobertas

Abílio Raposo
Diretor

Estamos todos a olhar para um acontecimento que não conhecíamos e que agora nos deixa meio desnorteados. Pois não sabemos bem o que fazer nesta situação. O Mundo consumista que procura só ter e possuir. Eu posso tudo e quero tudo. Ninguém manda em mim.

Foi esta a civilização que temos vindo a criar. O individualismo imperava. O EU era o senhor das nossas vidas. Nada importava a dimensão dos valores e dos afetos.

Esta civilização que foi sendo criada, vê-se agora com o desconhecido à sua frente. Esta geração que no meio do segundo quartel do século passado passou a ter tudo, as grandes evoluções tecnológicas e as liberdades. Grande grito era sempre este: eu quero… eu posso…

Agora vê-se confrontado com um vírus que faz destruir todas estas garantias. Um vírus que, como alguns já classificaram, é uma guerra mundial que a todos mete medo. Vi já pessoas apavoradas. Coloca todos em quarentena. Todos são convidados, voluntariamente ou compulsivamente a ficar fechado em casa.

E isto leva a grandes descobertas. Agora estou em casa; esposo, esposa e filhos. Confinados a quatro paredes. Que fazer? Hora da descoberta. Existe a família, vamo-nos descobrir. Depois vemos aquelas belas imagens de Itália em que se canta à janela, uns vizinhos para outros. Quantas daquelas pessoas nunca se tinham falado!? Pouco a pouco descobrimos o outro. E a própria falta da Missa em cada Domingo faz descobrir que afinal tínhamos um tesouro que perdemos. Agora quero ir livremente à Missa e não posso.

Não tenho Aquele que é tudo e que me pode livrar do mal. Vemos a grande cidade de Roma, com as suas avenidas sempre cheias e agora vazias em que o próprio Papa Francisco caminha a pé por elas para ir rezar a duas igrejas, uma dedicada a Nossa Senhora e a outra a S. Marcelo para rezar diante do crucifixo milagroso.

A humanidade está a passar por um período da história nunca visto. Hora muito importante para nos redescobrirmos e olharmos para a nossa humanidade e ver como precisamos uns dos outros. Agora é tempo de Quaresma em quarentena. Vivamos este momento com muita FÉ e ESPERANÇA.

Artigo completo disponível na edição em papel de 19 de Março de 2020, n.º 758