Crónica de um Outono anunciado…

José Manuel Claro

Para datar este texto sempre vos direi que o escrevi na última semana de agosto… de um agosto incaracterístico… ventoso e distante um mês da passagem do sol pelo equador celeste… passagem essa que nos propiciará um dia com igual dimensão da noite que se lhe segue… o primeiro dia oficial do outono!!!…

O porquê desta antecipação???… uma simples passeata matinal pelas desertas ruas da minha cidade em que constatei que as frondosas e até há pouco verdejantes copas arbóreas se começaram a despir do seu manto atapetando os passeios e relvados com o dourado acastanhado da sua caduca folhagem…

As copas dos pinheiros igualmente estão cheias de “agulhas” secas e que aguardam a queda dos ventos para se verem livres delas… preparando assim um novo ciclo da florescência que irá atazanar a minha saúde que sofre com o horrível “pó amarelo” que eles soltam por essas alturas…

Misturadas com estes alvores outonais e “feiando” todo este bucolismo… aqui e acolá vamos encontrando máscaras que serão provavelmente a coisinha mais “anti qualquer coisa” que alguém se lembrou de produzir…

A sua textura e má utilização que lhes são dadas – tipologia e horas de uso – tornaram aquele símbolo pandémico ineficaz e bastante poluente…

Não há rincão “praístico”… rua citadina ou espaço público ajardinado que não esteja sinalizado com a sua presença… nefasta presença acrescentarei…

Aqui chegado dou de caras com o civismo… ou a falta dele… evidenciado pela sociedade “santoandrense” que deveria ter por “leitmotiv” a preservação desta zona com forma de obter um desenvolvimento social sustentado e que aportasse à região um acréscimo de qualidade vivencial… acréscimo esse que se refletiria numa melhor condição de vida para todos os residentes e atividades económicas instituídas…

Não será só a questão das máscaras mas… igualmente o depósito de resíduos sólidos ao longo dos caminhos vicinais que proliferam por estes arrabaldes… retirando-lhes todo o encanto e bucolismo que encantam quem nos visita…

Todo o esforço para melhorar o espaço social em que quotidianamente vamos vivendo não será… nunca será!!!… melhor escrevendo… obra de uma autarquia ou de um conjunto de pessoas… mas sim o resultado de coletivismo baseado numa educação e num comportamento cívico que primeiramente defenda quem cá vive e… como corolário… presenteie os visitantes com uma qualidade de vida acima dos padrões praticados noutras zonas deste País…

Seria bom que… de uma vez por todas nos começássemos a mentalizar que os espaços envolventes das zonas de recolha dos resíduos sólidos urbanos não são lixeiras e que a deposição de “monos” nessas áreas obedece a um horário e dia estipulados para o efeito… obstando assim a períodos mais ou menos longos de exposição com todas as desvantagens sociais que isso acarreta…

Todos estes considerandos surgiram ao “correr da pena” e tiveram origem numa antecipação por parte da natureza do início do ciclo outonal… quadra muito bonita no que concerne à policromia com que se reveste… com os odores da queda das primeiras chuvas e pela constatação de um desinteresse… quase que diria coletivo… pela observância das mais elementares normas de coexistência entre todas as forças em jogo no nosso tecido social…

Esta antecipação outonal não será inédita se nos recordarmos que por alturas da feira de Grândola era e é usual o aparecimento destas superfícies frontais transportando ar marítimo o que acarretava sempre algum desconforto entre os feirantes e àquelas pessoas que se deslocavam dos arrabaldes para a tradicional visita ao certame…

Costumo escrever que vivo no paraíso… gostaria que você que me está a ler igualmente vivesse neste local… em que o sorriso e o bem-estar fossem a moeda de troca do nosso dia a dia… seja qual for a estação que se faça anunciar… venha ela temporã ou serôdia …