Crónica da Quotidiana Vivência: Quarentando…

José Manuel Claro

Se formos em busca da raiz etimológica do palavrão esbarraremos no termo italiano
“quatarantina”… quarenta dias… período de isolamento observado em caso de
suspeita de doença contagiosa…

Para além da génese do termo pouco mais se aproveitará… na relação direta com a atual circunstância epidemiológica que vivenciamos…

Com uma transmissão muito personalizada… em que o infetado tem de ter um contacto direto com o agente transmissor e que só se revela grave nos casos clínicos de debilidade física e que
exponenciem o surgimento de sequelas secundárias com especial incidência no foro pulmonar … está apresentado o bicharoco!!!…

Tudo isto vem a propósito da necessidade de… socialmente ter sido chamado à prática de uma quarentena de contornos temporais bastante difusos e que não garante qualquer efeito prático no que concerne à eliminação das hipóteses de contaminação futura…

Basicamente… a coisa cá pelo meu paraíso funciona com base na exclusão social direta… em que poderei praticar umas caminhadas solitárias… uns biciclismos igualmente solitários e umas almoçaradas no meu jardim desde que sejam degustados solitariamente!!!…

E aqui entra a negação do relacionamento social que é a base de toda a nossa existência e que… pela amostra evidenciada nos primeiros comportamentos cívicos ficou pelas ruas da amargura…
consubstanciados numa elementar constatação… quem não foi para a praia foi para as intermináveis filas do supermercado!!!…

Poderão vir os puritanos culpar a falta de preparação dos nossos governantes… e mais isto e mais aquilo… fechando os olhos ao que se passou na nossa velha Europa mas… com alguma habilidade genética tenho para mim que no computo final não iremos ficar muito mal no retrato…

A fazer fé numas quantas lampanas twittadas por um governante do outro lado do imenso mar… “a coisa não será grave e quando o tempo aquecer o bicharoco desaparecerá”…

Aqui surge a tábua salvadora da minha conturbada existência… o tempo aquecerá… o bicharoco desaparece e… voltaremos a ser felizes???…

Confesso que me apeteceu quebrar o ciclo de otimismo e fazer derramar o anátema sobre tão elementar solução: “será que a alteração climática não vai originar a mutação genética do vírus???”…

Entretanto… cá continuarei com as minhas cogitações e prevaricações numa tentativa desesperada de otimizar a logística da quarentena por forma a trazer-me mais felicidade e aquilo a que eu chamarei de socialização clínicas em efeitos secundários!!!…

Lidar com a “coisa” não se tem revelado inicialmente fácil mas… atendendo à época e ao clima que se tem feito sentir cá pelo sul o assunto estará resolvido duma penada!!!…

Artigo completo disponível na edição em papel de 19 de Março de 2020, n.º 758