“Tri Ângulos”

Nesta edição publicamos um trabalho realizado por alunos de uma turma profissional mista (Técnico de Turismo e Técnico de Equipamentos Eletrónicos)do 11º ano da ESPAM-Escola Secundária Padre António Macedo, orientados pelo Professor Rui Teresa. Os alunos fizeram um conjunto de três entrevistas a músicos locais, aqui fica o texto elaborado por eles.

“Com o objetivo de conhecer melhor a realidade/diversidade cultural da nossa terra, dividimos a nossa turma em três grupos e fomos entrevistar três músicos com abordagens bastante diferentes, contribuindo para o plural artístico que a arte representa.

Carla Nunes

O primeiro grupo decidiu entrevistar a professora Carla Nunes (CN), que se mostrou bastante disponível para nos ajudar no trabalho e foi sempre bastante simpática. Começámos por questioná-la sobre o início da sua carreira, como ela começou e se os familiares a apoiaram.

“Há quanto tempo começou a sua carreira musical?”

(CN) –  “A minha carreira musical começou em 1985, tinha eu 15 anos.”

Conseguimos perceber que se esforçou para chegar onde chegou, mesmo sendo tão nova. De seguida, ainda no mesmo tema da carreira, perguntámos-lhe se a família a apoiou a seguir esse sonho que conquistou tão nova.

“Uau! Começou bastante nova! A sua família sempre a apoiou desde o início a seguir esse sonho?”

(CN) ”Os meus pais apoiaram-me de forma incondicional. Nasci numa família humilde, os meus pais trabalhavam numa empresa de pecuária e vivíamos a 4km de Santiago do Cacém. Sou a única pessoa na família que seguiu uma carreira musical.”

Todos nós achámos esta parte muito importante porque há muitos artistas, sejam musicais ou atores, que não têm apoio familiar e ter esse apoio especialmente de pessoas próximas é bastante importante.

Ainda falando um pouco do passado, quisemos saber de onde veio tanta inspiração. Afinal, ela sempre gostou bastante de música e logo nessa altura, com 14 anos, decidiu inscrever-se na Escola de Música da Câmara Municipal de Santiago. A professora salienta também as horas diárias de esforço e trabalho que, na sua ótica, são imprescindíveis a um profissional da música e incontornáveis à realização do tal sonho de que tanto se fala.

Depois de sabermos um pouco sobre o passado da professora, quisemos saber um pouco sobre o presente, como por exemplo, que outros instrumentos toca, para além do acordeão, com o qual já é conhecida.

(CN) “Toco piano, guitarra, flauta de bisel, ukulele, xilofones… como professora de música tenho uma formação muito abrangente.”

Achámos importante perguntar se já alguma vez tinha considerado em expandir internacionalmente a sua carreira, mas a mesma diz que já está envolvida em vários projetos musicais por cá e que, além do mais, tem uma família para cuidar. Também acrescentou que já fez mais de 2000 concertos e que nunca teria conseguido chegar onde chegou sem os seus familiares.

Por último, pedimos que deixasse algum comentário aos leitores desta entrevista.

(CN) ”Apoiem os sonhos dos vossos filhos, quando chegar a hora.”

Miguel Carvalho

O segundo grupo entrevistou um músico, também residente em Vila Nova de Santo André, chamado Miguel Carvalho, com 44 anos.

Sobre a origem da sua relação com a música, respondeu-nos que ouvia música desde muito cedo por influência da sua irmã mais velha, que comprava uma revista alemã semanal de cultura pop chamada ”Bravo”, onde havia uma secção de duas páginas sobre Heavy Metal e os seus derivados, cujas fotos o deixavam fascinado.

Só aos 12 anos, com o aparecimento das antenas parabólicas é que ele teve, finalmente, a oportunidade de ouvir as primeiras bandas de Hard Rock e Heavy Metal. Os pais compraram-lhe de imediato uma viola acústica e foi assim que ele começou a tocar.

Tendo tocado em inúmeras bandas até agora, há dois projetos que definem a sua atividade musical-criativa do momento: Animalesco, o Método (que ele identificou com o estilo Crust) e Rancid Amputation (classificado pelo próprio como Death Metal). Questionado sobre o futuro, ele respondeu que lhe daria muito prazer dar continuidade a estes dois projetos, pelo que não tinha planos de se dispersar noutras atividades.

Sobre os instrumentos que toca, ele respondeu que não é particularmente bom em nenhum, mas que toca guitarra, baixo e faz vozes. Perguntámos-lhe também se tinha beneficiado de algum tipo de apoio local, ou se havia algum tipo de apoio para projetos musicais como o dele, tendo respondido que achava que sim, que até havia algum apoio aos estilos mais extremos e menos consensuais. Porém, não tinha bem a certeza da existência desses apoios, porque como conseguia ser autossuficente (na linha do conceito one-man-band) não sentia nenhuma necessidade de apoio local para os seus projetos musicais. A sua atividade é difundida nos meios de comunicação especializados, onde os seus álbuns são divulgados, comentados e vendidos, não passando necessariamente por qualquer tipo de divulgação local específica.

Tratando-se de trabalhos de estúdio, ainda questionámos o Miguel sobre atuações ao vivo. Ficámos a saber que com o projeto Animalesco, o Método ainda formou um coletivo para tocar ao vivo, tendo, aqui na zona, dado concertos em Sines, Brescos, Alvalade do Sado e São Bartolomeu da Serra.

Margii SA

O terceiro grupo entrevistou um músico que dá pelo nome artístico de Margi SA. Começámos por questioná-lo sobre o início da sua carreira, a que Margi prefere referir-se como um percurso.

Ficámos a saber que foi em 2001 que ele começou a ouvir Rap e que logo dois anos depois se iniciou na escrita das suas próprias letras e a gravar, tendo, como pontapé de saída, o grupo de amigos com que, ainda no Ciclo Preparatório, formou o seu primeiro grupo (2004).

Tal como com os outros entrevistados, também aqui a família esteve presente no arrancar desta aventura musical, especificamente no apoio financeiro para construir o seu primeiro home studio.

Tentámos saber se a sua vida musical já era um sonho de criança e percebemos que ser uma estrela nunca foi o seu desejo, apenas a vontade de fazer Rap, essa sim, desde muito cedo.

Quanto ao seu futuro na música, disse-nos que não costuma fazer projetos a longo prazo, mas que a curto e médio, sim, tem planos, como a divulgação do seu último CD de nome “Ambição”, lançado em fevereiro deste ano.

Soubemos, a este propósito, que fundou uma editora chamada “4ºD’Fumo”, sediada em Vila Nova de Santo André e que, através dela, está a preparar o lançamento de mais dois CDs de outros autores.

Assumindo o desafio de se ir sempre superando, Margi afirma que não sonha com a fama, mas com a possibilidade de ir dando a mão a novos músicos que precisem de apoio.

Para além de tudo o que já referiu, neste momento encontra-se também envolvido num projeto maior de divulgação da história da cultura Hip Hop no Alentejo, a arrancar já em Abril deste ano, onde inclui, além da música, o graffitti, arte popular, desde muito cedo, em Vila Nova de Santo André.

Consumidor atento e regular de Hip Hop, apesar de também ouvir algum Jazz e Soul, Margi identifica o dia-a-dia como a sua principal fonte de inspiração, além da reflexão sobre a vida de amigos e até mesmo de outras músicas.

Apesar de apenas uma das pessoas em causa ser profissional da música, nos três percebemos o sacrifício e o voluntarismo que a dedicação a uma causa artística representa. O nosso obrigado a todos, pela simpatia e pelo tempo que nos concederam, mas, principalmente, pelo quanto as suas atividades artísticas nos enriquecem.

Esperamos que tenham gostado de ler as nossas entrevistas e que os exemplos que apresentamos sejam vistos como estímulos.

Estímulos para quê? Não temos resposta a esta pergunta, mas esperamos que vocês tenham…”

Alunos da turma profissional mista do 11º G/H, (Técnico de Turismo e Técnico de Equipamentos Eletrónicos) da EPAM, em Vila Nova de Santo André, no âmbito da disciplina de Português, orientados pelo Professor Rui Teresa, em março de 2023.

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