O NOVO NORMAL… SERÁ ISTO?

CRÓNICA DA QUOTIDIANA VIVÊNCIA

José Manuel Claro

 1 – O jornalista que tem de escrever sobre o que se passa no mundo à sua volta e no desfiar dos dias que estamos vivendo, terá obrigatoriamente de fazer um ‘zapping’ histórico e neste caso concreto sobre a Europa.

Quase que diria que os grandes conflitos bélicos aconteceram tendo por epicentro este velho Continente, muito à semelhança do que se passa hoje lá para Leste que, com o evoluir das comunicações e meios de transporte está a escassas três horas de distância da nossa casa, e omnipresente na informação que nos entra portas adentro pela rádio e televisão.

Digamos que, em termos macrogeográficos, temos a guerra no nosso quintal.

A comunicação tem desempenhado um papel fulcral no desenrolar do conflito, através das agências arregimentadas a cada um dos lados da contenda e, o chorrilho de informação e contrainformação produzidos por essas centrais noticiosas, tendo como objetivo o camuflar da verdadeira situação no terreno.

A sociedade em geral, não muito sensibilizada culturalmente para esses paradigmas sociais, faz uma análise e reage de uma forma que por vezes, indiretamente, como que amplia o sentido da desinformação difundida.

Como consequência de todo este cenário, cada um julga-se detentor de toda a verdade porque ‘ouviu’ e, muitas das vezes, defende no seu círculo de vivência esta ou aquela parte no conflito que, a bem de ver, talvez não seja uma forma correta de abordar a temática.

 

2 – Resultante dos grandes conflitos que deflagraram na Europa ao longo dos séculos, foram surgindo as tendências imperialistas por parte dos Estados mais poderosos que viram na riqueza alheia um modo de sobrevivência própria.

Sem guerra aparente, surgiu no século XV, mais concretamente no dia 7 de junho de 1494 a assinatura do Tratado de Tordesilhas, celebrado entre o Rei D. João II de Portugal e os Reis Católicos de Castela e Aragão, que definiu os hemisférios de influência portuguesa e castelhana.

Considero que, talvez, seja este um dos mais importantes tratados imperialistas que a história algumas vez assistiu, partindo o mundo em dois, ficando os dois países da Península Ibérica com um hemisfério, como seu.

Hoje em dia e subjacente ao conflito que deflagrou com a invasão da Ucrânia por parte da vizinha Rússia, está de novo sobre a mesa o imperialismo dos mais poderosos que, não olhando a meios, vão manobrando os outros Países do mundo como marionetas numa performance teatral, atropelando os direitos e ambições dos mais fracos.

 

3 – Há dois meses, os Estados Unidos lançaram para a fogueira informativa, as achas da suposição de que a coberto do conflito que decorre na Europa de Leste, a Rússia estava a expandir-se hegemonicamente no continente africano, utilizando as milícias do grupo Wagner.

Para quem por gosto ou obrigação profissional acompanha o desenrolar do mundo, já se apercebeu, há muito tempo, que essa tentativa de influência vem sendo feita pelas grandes potências militares e económicas e aqui surgiu para o cenário das conversas a silenciosa China que, discretamente tem vindo a alicerçar as suas influências expansionistas e que efetivamente domina através das finanças, não um hemisfério, mas todo o mundo!

Como que despertos para essa realidade, os Estados Unidos da América, tentam desesperadamente encontrar um antídoto para essa evolução e mostrou ao mundo, por estes dias, qual o aliado que gostaria de ver a seu lado na tal ‘partição do bolo’.

A escolha recaiu na Índia que, a curto prazo, vai constituir-se a maior demografia mundial, para além de possuir um estatuto tecnológico que consegue ombrear com os restantes países ditos tecnologicamente avançados.

Um recente estudo sobre as lideranças dos maiores potentados político-económicos do mundo mostrou-nos que os seus líderes são de ascendência indiana. Longe vai o Tratado de Tordesilhas.

Leme 834 – julho de 2023