População contesta instalação de Central Solar Fotovoltaica em São Domingos e Vale de Água

A população da Freguesia de São Domingos e Vale de Água, no Concelho de Santiago do Cacém, está contra a instalação de uma Central Solar Fotovoltaica, num investimento de mil milhões de euros, e lançou uma petição online que já reuniu mais de 1.250 assinaturas.

O projeto da Central, cujo Estudo de Impacte Ambiental (EIA) esteve em consulta pública até ao passado dia 18 de março, prevê a instalação de um parque com 2,2 milhões de painéis solares dupla face, numa área de 1.260 hectares que inclui zonas de eucalipto e de montado.

A dimensão do projeto, cuja promotora é a empresa Prosolia Energy, e o abate de milhares de eucaliptos está a ser contestada pela população que lançou uma petição pública para evitar a “destruição de milhares de árvores”.

“São conhecidos os efeitos negativos de instalações solares de menores dimensões: artificializacão da paisagem, extinção de fauna e flora endémicas, redução do sequestro de co2 por abate de árvores e/ou morte destas por alterações climáticas da zona, contaminação dos solos e aquíferos por metais pesados”, lê-se na petição.

De acordo com os subscritores, “este mega projecto”, designado The Happy Sun is Shining (TSHiS) está projetado “em
zonas classificadas Reserva Ecológica Nacional (REN) e Reserva Agrícola Nacional(RAN)”, na qual “pretendem instalar 2,2 milhões de painéis fotovoltaicos e um número desconhecido de baterias solares”.

Paulo Quintos, morador há 30 anos em São Domingos é um dos subscritores da petição que mostra preocupações quanto à dimensão do projeto e consequente abate de árvores e os reflexos a nível local.

“Além da dimensão, grande parte dos terrenos está em área REN. Para se instalar esse projeto vão ser arrancados 1.262 hectares de mata, grande parte eucalipto, é verdade, mas que está ordenado e limpo, o que é sinal que as coisas estão bem cuidadas pelo promotor”, alegou.

Paulo Quintos teme que o arranque dessa mata dê lugar “a um deserto tapado por painéis solares, vidro e metal”.

“Em termos de aquecimento, vamos passar a ter verões muito quentes. Se a central estiver vedada com uma vedação de dois metros como diz o projeto vai ser um galinheiro com 1.262 hectares onde as pessoas não podem aceder para procurar sombra porque elas também não existem”.

Outras das preocupações indicadas na petição, que será enviada à Agência Portuguesa do Ambiente e à Câmara Municipal de Santiago do Cacém, é a proximidade do projeto à barragem de Fonte Serne e a “vários aquíferos essenciais à população”.

“Esta Central vai apanhar dois hectares dentro da barragem de Fonte Serne e, provavelmente, isto não será inocente
porque os painéis vão ter de ser lavados e a barragem vai passar a ser o esgoto da lavagem desses painéis ou vai servir para ir buscar água para a sua lavagem. Não acredito que a EDIA tenha vindo pôr cá água para o regadio da agricultura, para se lavarem painéis”, acrescentou.

Além do impacto nas atividades ligadas ao turismo da freguesia, Paulo Quintos não tem dúvidas em afirmar que o projeto “não traz mais valias” para a freguesia de São Domingos e Vale de Água.

“Há pessoas que investiram aqui milhares de euros, como é o caso do Turismo Tons da Terra que vai ficar rodeado por painéis solares. Qual é o negócio desse homem? Zero. Alguém o vai indemnizar? Zero”, criticou.

O subscritor diz que “estão mais de mil sobreiros marcados para abater” e lembra que a população “não foi consultada até hoje”.

“Não queremos um monstro à nossa porta e não venham com a falácia da criação de emprego porque é mentira, nem
com a falácia de que é muito bom para a freguesia, porque também não é verdade”, insistiu.

De acordo com o EIA, o terreno onde a central solar fotovoltaica THSiS vai “nascer” tem uma área total de 1.262 hectares, que inclui “mais de um milhão de eucaliptos” e zonas de montado, mas para a ocupação da central estão
destinados 535 hectares.

É esta a área onde vão ser montados mais de 2,2 milhões de módulos solares dupla face, “com uma potência combinada de 1.143 MW (megawatts)”, com a qual se estima produzir cerca de 1.761 GWh/ano, com o objetivo de escoar energia para o Sistema Elétrico Nacional.

O estudo refere que está previsto “que sejam preservados os montados, os exemplares identificados isolados, assim
como a vegetação ribeirinha”.

A Central terá uma vida útil de 30 anos e contribuirá anualmente para evitar a emissão de cerca de 595 mil toneladas de CO2 (dióxido de carbono) para a atmosfera, quando comparado com a produção de energia equivalente utilizando gás natural, ou a não emissão de cerca de 1.408 toneladas de CO2, por ano, se o combustível utilizado fosse o carvão.

O promotor estima que o projeto permite criar “pelo menos 50 postos de trabalho”, com a instalação e exploração da Central. Na fase de construção, que terá um prazo de 11 meses, o projeto poderá envolver cerca de 2.500 trabalhadores.