Átrio dos Gentios

Opinião - Joaquim Marques

Opinião - Joaquim MarquesPor Joaquim Marques, em Vila Nova de Santo André

O Átrio dos Gentios é um organismo recente da Igreja Católica encarregue do diálogo com os não crentes. A designação foi retirada do contexto do antigo Templo de Jerusalém. Este, na sua essência, era reservado ao Povo Israelita, contudo, dada a grande afluência de visitantes não israelitas, não convinha (até, talvez, por uma razão económica) mante-los completamente afastados do Templo. Assim, podiam frequentar um átrio próprio, afastado da parte central do santuário, designado por Átrio dos Gentios, estando sujeitos a pena de morte se ultrapassassem a balaustrada divisória.

No “Átrio dos Gentios” de hoje os assuntos a debater são naturalmente de ordem espiritual, é o que os cristãos designam por Fé. Com este termo não se entende, porém, nem um conteúdo dogmático, nem tampouco uma referência direta e explícita a Deus: a fé é um valor enquanto representa, para crentes e não crentes, o dinamismo para a transcendência.

Sublinha-se a dimensão “Diálogo” para, desde logo, supor a escuta ativa de cada uma das partes, colocadas num plano de intercâmbio e conhecimento recíprocos. Esta atitude é nova e supõe que ambas as partes, crentes e não crentes, procuram escutar os pontos de vista do outro, sem a atitude crítica, dominante até ao Concílio Vaticano II e ainda hoje presente em muitos crentes, de pretender “converter” os que não partilham a sua fé, mediante argumentos supostamente evidentes e indesmentíveis. Caindo na tentação de pretender demonstrar a fé, chega-se, por vezes, ao extremo de invocar pretensas provas “científicas”, como milagres que se multiplicam à nossa volta, supostamente para que não haja falta de provas de que Deus existe e patrocina a nossa crença. Esta, porém, não é a postura de quem pretende promover o diálogo.

O artigo completo na edição em papel de 08 de Agosto de 2014, n.º 629