CHEGOU O VERÃO

CRÓNICA DA QUOTIDIANA VIVÊNCIA – José Manuel Claro

1 – Diga-se que climaticamente quase nem se deu por ele.

Concluídos os festejos dos Santos ditos populares, com comemorações díspares por essa Europa fora e Médio Oriente, o mundo como que foi sossegado pelas grandes centrais de informação, retirando o foco das nossas atenções sobre os conflitos armados e como que aproveitando para um reordenar de forças no xadrez político internacional.

Da guerra na Ucrânia pouco se tem noticiado, para além de uma incansável atividade de política de Volodymyr Zelensky, saltitando de reunião em reunião por esta Europa fora, estando presente em tudo o que são ajuntamentos políticos ocidentais, buscando ajuda material para se defender da agressão russa ao seu território. A Ucrânia continua alinhada com o bloco europeu e americano, no que concerne a provimentos militares destinados à sua defesa

Por outro lado, a Rússia, depois de um realinhamento com alguns países africanos que se dispuseram a fazer acordos de defesa, foi bater às portas da Coreia do Norte para ver o que se poderia encontrar de fornecimentos de armamento por aquelas paragens, tentando conseguir por essa via um abastecimento mais substancial de armamento chinês sem o obter diretamente do gigante asiático, que continua a afirmar ao mundo a sua neutralidade nos atuais conflitos militares existentes.

2 – Da guerra entre Israel e a Palestina, apenas nos vão chegando umas notícias bastante avulsas, somente quando ocorrem intervenções para o anunciado extermínio do AMAS, agora que os Estados Unidos da América estão a inundar a martirizada faixa de Gaza com a tão propalada ajuda humanitária, tentando assim limpar a face de conivente com o genocídio praticado por Israel.

A situação poder-se-á caracterizar por uma acalmia não acordada diretamente entre as partes, com o Irão a continuar a apoiar os rebeldes xiitas Hutis que tentam através de atos de pirataria, condicionar a circulação marítima no Mar Vermelho.

Muito para além dos reflexos imediatos sobre o conflito que se desenrola na região, estes ataques, refletem-se ao nível da economia mundial, desestabilizando os circuitos normais de distribuição de mercadorias, muitas delas vitais para a economia do ocidente.

3 – Enquanto tudo isto, a velha Europa está como que parada a aguardar pelas decisões eleitorais americanas.

Neste período de indecisão política mundial, e de acalmia nos conflitos existentes, a Inglaterra e a França, estão a promover uma restruturação política interna, como que a prepararem-se para o que se adivinha no horizonte político imediato.

Em Londres, os Trabalhistas deverão regressar ao poder e possivelmente suscitar uma reapreciação do brexit. Igualmente poder-se-á esperar uma mudança de posição Britânica em relação à atual situação política que se vai vivendo cá pela Europa.

Em França, o Presidente Emmanuel Macron, tenta evitar que a subida de extrema direita francesa se reflita diretamente no governo da França, situação que a acontecer, far-se-á sentir igualmente no nosso País, dado o elevado número de emigrantes portugueses que vivem em terras gaulesas e conhecidas como são as posições defendidas pelos radicais de direita em relação à imigração.

Pelos factos aqui trazidos à coação, a situação mundial não se revela nada auspiciosa para a velha Europa, cada vez mais enfeudada à política americana que, nestes últimos tempos de campanha presidencial estadunidense, e com uma forte indecisão sobre o sentido de voto a praticar pelos americanos, se vê como que manietada na escolha do seu futuro, num cenário de ameaças reais.

4 – Por cá, e com a chegada do Verão, iniciam-se as festas relacionadas com festivais de música, feiras, organizam-se eventos com tasquinhas e mais uns arremedos de atividade cultural dispersos, como se não vivêssemos neste mundo, aqui e agora.

Será que a nossa posição social coletiva foi decalcada do comportamento da avestruz que quando se sente ameaçada enterra a cabeça na areia, deixando aquele enorme corpanzil à mercê do que a cerca? É que no Litoral Alentejano temos toda essa animação social e cultural, mas igualmente temos o complexo de Sines, zona de interesse vital para o mundo ocidental em caso de conflito bélico generalizado. Seria bom começarmos a pensar como iremos acautelar o nosso próximo futuro e tirássemos a cabeça da areia para olharmos à nossa volta, vendo qual a melhor posição a tomarmos para acautelar o nosso futuro. Vai sendo tempo de o fazermos, e não esperarmos que o façam por nós.