Beneficiários de Campilhas e Alto Sado lamentam falta de diálogo com o Governo

Helga Nobre

A Associação de Beneficiários de Campilhas e Alto Sado (ARBCAS), em Santiago do Cacém (Setúbal), alertou recentemente para as consequências da seca neste território, lamentando a falta de diálogo com o Governo para mitigar os seus efeitos.

“Fizemos um cálculo dos prejuízos que entregamos em documento ao Secretário de Estado da Agricultura e por ano, nesta realidade, são cerca de nove milhões de euros que não circulam no território devido à seca”, precisou o Presidente da Direção da ARBCAS, Rui Veríssimo Batista, na Comissão de Agricultura e Pescas, na Assembleia da República, em Lisboa.

Durante uma audição parlamentar sobre as implicações da seca na zona de Campilhas e Alto Sado, que se realizou no passado dia 02 de maio, o responsável reconheceu que “não tem sido fácil passar a mensagem ao Governo, apesar dos vários ofícios enviados à Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural”.

“Esta Associação é a que tem provavelmente a situação mais crítica de falta de água, de impacto das alterações climáticas e de alguma falta de intervenção por parte do poder político, porque até agora ainda não tivemos qualquer intervenção no sentido de apoio para que as coisas possam mudar”, criticou.

Segundo o responsável, este ano a albufeira de Campilhas, que “praticamente não tem rega, vai apenas acudir a um ou outro problema, uma ou outra vinha ou pomar, um ou outro hectare de arroz ou de outra cultura”.

A ARBCAS fornece água para rega em 6.000 hectares no Concelho de Santiago do Cacém e nos Municípios de Odemira e Ourique, no Distrito de Beja, através de várias albufeiras, como Campilhas e Monte da Rocha.

Na audição na Comissão Parlamentar, o responsável explicou ainda que, devido à seca, a Associação já comprou mais de dois milhões de euros de água à Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva (EDIA).

“Toda a água que compramos à EDIA, excetuando este ano, é água que cria prejuízo na Associação”, assegurou o dirigente, acrescentando que durante anos a ARBCAS “criou uma bolsa financeira que, entretanto, esgotou, enfrentando agora uma situação económica aflitiva”.

Perante o atual cenário de dependência “exclusiva da água vinda de Alqueva”, a Associação “não tem outra forma a não ser taxar brutalmente os seus agricultores para conseguir sustentar os postos de trabalho”, reconheceu.

“Tivemos um brutal aumento da água, convidámos o Diretor geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural para estar presente na reunião, porque é de facto um desequilíbrio enorme entre os agricultores da nossa região, e nem resposta tivemos”, lamentou, acrescentando que, “se eventualmente a EDIA aumentar os preços da água em cerca de 100%, a Associação não tem outro caminho a não ser fechar”.

Texto completo jornal 831  Maio de 2023