NÃO ESTÁ A REBENTAR… ESTÁ A ESGAÇAR!

CRÓNICA DA QUOTIDIANA VIVÊNCIA – José Manuel Claro

 José Manuel Claro

1 – A rebentar pelas costuras, não sendo um grau de adjetivação reconhecido gramaticalmente, traduz fielmente uma afluência inusitada e circunstancial de qualquer coisa a um qualquer lugar que mantém o seu volume fixo.

Vulgar é lermos que a hotelaria do Algarve está a rebentar pelas costuras dado o anormal fluxo de visitantes em determinadas épocas do ano, o que é diferente de dizermos que o Algarve está cheio que nem um ovo.

No caso particular que citei, o rebentar pelas costuras representa, para o turista, a declaração do estado de ‘overbooking’ e o necessário e nem sempre pacífico alojamento numa outra unidade hoteleira.

Na situação de cheio que nem um ovo, a coisa vai-se resolvendo com uma cotovelada daqui um aperto dali, mas… sobrevive-se.

Citei o exemplo do turismo para tentar explicar as diferenças adjectivantes do tema que quero abordar.

 

2 – A nossa sociedade, desde sempre, que se habituou às filas de espera para conseguir algo da Administração Pública, digamos que, desde pequenos, nos foi incutido o dever de esperar em filas para sermos atendidos nos Centros de Saúde e nas Urgências Hospitalares, etc.

Uma pessoa que vai às quatro da manhã para a porta de um Centro de Saúde para ver se consegue uma consulta, logo à partida, acredito, que está realmente doente.

Há falta de melhor tema e, quiçá, tentando afastar a nossa atenção de qualquer outra coisa que poderá estar a ocorrer nas catacumbas do poder, estes últimos dias as reportagens noticiosas junto das filas para isto e para aquilo, têm-se multiplicado que nem cogumelos depois de uma forte chuvada.

Estas reportagens trouxeram ao conhecimento comum aquilo que se vai passando junto às Lojas do Cidadão e que ultrapassa em muito o relatado nas filas das Unidade de Saúde.

Aquilo que pensávamos irreal, só possível numa mente de um ficcionista que estivesse a escrever um romance, de súbito, veio a público, qual verdade nua e crua, direi antes socialmente intragável – acampamentos de doze horas às portas das Lojas do Cidadão, para se tentar obter uma senha que dê acesso a um atendimento… no próprio dia!

De uma forma geral, estas ações ditam a perda de trabalho com a consequente redução salarial que, na maioria das vezes, já está abaixo do limite de subsistência daqueles que têm necessidade de recorrer a esses Serviços.

 

3 – Temos uma imensa massa trabalhadora migratória, sabemos disso, porque eles estão inscritos na Segurança Social e, através disso, é-lhes facultado viverem na nossa sociedade.

Como dado adquirido temos, o saber da sua existência e o recebermos as suas contribuições para o sistema de Segurança Social.

Se outra situação houvesse, a clandestinidade por exemplo, eles nunca iriam bater à porta da Loja do Cidadão, nem das Unidades de Saúde.

Aqui começa a vislumbrar-se que estas situações se devem à falta de resposta no dimensionamento das estruturas, por parte dos ministérios que superentendem no nosso País.

Na máquina do Estado, existem cabeças pensantes de real valia, e recuso-me a admitir que esses quadros superiores dos Ministérios, já não tenham produzido informação sobre este estado de insuficiência reinante no nosso aparelho administrativo.

Se, por algum motivo, ocorrer algo que mereça as atenções internas e externas, lá teremos a subir à cena aquela estafada rábula do Secretário de Estado que tinha no computador as provas de que alertara o Ministro para a situação e cujo fulcro principal da ação, foi desviado para uma ida de bicicleta ao Ministério, fora de horas e de obrigar as Chefe de Gabinete e a sua ajudante a fecharem-se no WC para escaparem à sua fúria.

O SIS, entretanto, já certamente criou um piquete para estas emergências que prometem tornar-se o pão nosso de cada dia.

Isto não está a rebentar pelas costuras… isto está a esgaçar-se… a olhos vistos!

 

José Manuel Claro