Município está preparado para acolher os investimentos que aí vêm

ENTREVISTA| Nuno Mascarenhas – Presidente da Câmara Municipal de Sines

“Os donos dos terrenos com capacidade de urbanização, quer os promotores, não podem assumir posições que venham a agravar, injustificadamente, os preços da habitação”.

Helga Nobre

O Presidente da Câmara Municipal de Sines, Nuno Mascarenhas, diz que é necessária mão de obra para fazer face aos investimentos previstos para o complexo industrial do que a fixação de pessoas neste território coloca um desafio ao nível da habitação e alerta que o mercado tem de responder sem agravar os preços.

O Leme – Quais são os principais desafios que o Município de Sines enfrenta, tendo em conta os investimentos de milhões de euros que estão a decorrer e ou projetados para os próximos anos?

Nuno Mascarenhas – O Município está preparado para acolher estes investimentos, quer do ponto de vista portuário, quer do ponto de vista industrial. Ainda que, sobretudo do ponto de vista industrial, os setores se estão a diversificar e, portanto, temos de criar condições para a fixação desses investimentos. O grande desafio que temos pela frente é o da mão de obra que estes investimentos exigem. Estamos a falar de todos os setores de mão de obra, desde os menos qualificados aos muito qualificados. Importa por isso que possamos ter aqui os meios necessários para qualificar os nossos jovens e, simultaneamente, dar resposta às necessidades de qualificação ao longo da vida.

Leme – Sendo a questão da habitação uma das mais relevantes, que medidas estão a ser aplicadas para responder a esta realidade, tendo em conta o número de trabalhadores esperados e também a população permanente?

  1. M. – Fixar essas pessoas que serão atraídas pelos novos empregos coloca-nos um desafio ao nível da habitação. Temos a cidade planeada e a criação de mais habitação passa pela execução, essencialmente, dos Planos de Pormenor Norte e Sul-Nascente. Do ponto de vista do Município, estamos a preparar as hastas públicas que viabilizarão o desenvolvimento dos planos. E acredito que o mercado vai corresponder. Agora, o próprio mercado tem de se ajustar às necessidades da procura e, quer os donos dos terrenos com capacidade de urbanização, quer os promotores, não podem assumir posições que venham a agravar, injustificadamente, os preços. Com efeito, os próprios promotores dos novos investimentos também têm aqui uma respirabilidade, como aliás aconteceu no passado.

Leme – Sines foi o território escolhido pelo Governo para fazer avançar os investimentos que conduzem o país na transição energética e digital. Quais os investimentos previstos e quais as contrapartidas para esta região?

N.M. – Os investimentos são os que têm sido anunciados na comunicação social. A transição energética e a transição digital são dinâmicas globais e dependem em muito dos investimentos privados. Sines está sinalizada quer na Estratégia Nacional para o Hidrogénio, quer para a amarração de cabos submarinos. E temos o maior porto nacional e a maior área de localização industrial do país. São políticas públicas que vêm de há algumas décadas a esta parte e que conhecem agora um conjunto largo de novas oportunidades, a que não é alheio o facto da Câmara Municipal, a AICEP Global Parques terem desenvolvido uma estratégia comum de atração de investimento. A questão das contrapartidas é, de facto, importante. Por um lado, temos privilegiado as empresas que colocam a sua sede em Sines, com vantagens óbvias para o Concelho. Por outro lado, temos feito notar ao Governo que são precisas condições transversais ao território, por exemplo nas infraestruturas, como a rodovia e a ferrovia. Aliás, a obra de continuação da A26, uma primeira fase que liga Relvas Verdes ao Roncão, vai mesmo avançar para concurso em breve.

Leme – Sabemos que há novos investimentos previstos para esta região que vão ser anunciados em breve. O que nos pode avançar?

N.M. – Temos uma procura diária por parte de investidores. Muitos são apenas prospetivos, mas chegam-nos muitas intenções já com alguma maturidade. O projeto da Start Campus, por exemplo, teve um tempo entre o anúncio e o início da obra de pouco mais de um ano. É raro, mas é possível. A área do digital, dos dados e das comunicações tem tudo para crescer em Sines, criando um verdadeiro hub nacional e com significado europeu. Temos também projetos da área industrial que podem ter um efeito de atrair outros projetos.

Leme – O Governo anunciou igualmente a instalação do parque eólico ‘offshore’ ao longo da costa portuguesa e Sines aparece também nas propostas de localização. Como vê este projeto e qual o seu impacto, nomeadamente no setor da pesca?

N.M. – Integro a Comissão Consultiva que foi criada para o plano de afetação para a produção de energias renováveis em representação da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Litoral. Apresentámos um parecer negativo em relação às áreas propostas para o Litoral Alentejano, sendo que, no que diz respeito à proposta para a área portuária de Sines, a cerca de 2 milhas da costa, manifestamos a nossa absoluta discordância. Relativamente às restantes duas áreas, só mudaremos de opinião quando se verificarem duas condições: que nos seja demonstrada a compatibilização da instalação de eólicas com a atividade da pesca, que nos seja demonstrado que estas instalações não conflituam com a amarração de cabos submarinos que atraem investimentos na área digital e tecnológica. Somos sensíveis à necessidade que o país tem de produzir energias a partir de fontes renováveis, mas a instalação de eólicas no mar pode, perfeitamente, ocorrer a uma distância da costa que não prejudique outras atividades económicas essenciais para o país, sejam elas mais tradicionais ou mais inovadoras e que ao mesmo tempo não ponha em causa os valores ambientais desta costa. Se isso implicar mais investimento, isso tem de ser previsto nos planos de rentabilização dessas infraestruturas.

Leme – Qual o ponto de situação do processo para a instalação da fábrica de baterias da chinesa CALB?

N.M.- Estamos a acompanhar a preparação dos projetos e acreditamos que o estudo de impacto ambiental chegará à fase de consulta pública em breve. É um investimento muito relevante para o país e que pode ter o efeito de atrair outros investimentos, além de criar novos postos de trabalho, muitos deles muito qualificados.

Entrevista completa jornal 834 – julho 2023