O OUTONO???… TAMBÉM TEM VÉSPERAS!!!…

José Manuel Claro

1 – Uma delas é a que dá a conhecer ao mundo mais um número do nosso jornal… saiu precisamente no dia anterior ao início do outono…

As vindimas como que iniciaram as vésperas da estação em que a natureza se agasalha sob um manto de cores fortes e por outro lado se desnuda da folhagem como que a preparar-se para a higienização dos seus agentes…

Enquanto se despe e não se despe… a natureza matiza-se de dourados… grenás e outros tons secos que coam os pardacentos raios de um sol cada vez mais inclinado para sul…

Nos lagares de azeite a azeitona começa a ser moída para ser levada às ceras e prensada…

Nas adegas impera o cheiro a mosto fermentado aguardando as primeiras friezas para apurar os néctares…

Nas fábricas de descasque… o arroz sofre tratos de polé para que possa ir ao exsicador para ser definitivamente armazenado…

As pastagens plantadas são enfardadas para se garantir o sustento para o gado durante o inverno que se aproxima em gigantescas passadas…

É um ciclo natural a fechar-se para recobro e voltar à vida uns meses mais tarde…

 

2 – Isto talvez fosse a forma bucólica do jornalista abordar a temática outonal mas… hoje em dia a “coisa” não será bem assim e… bem pelo contrário… as vésperas outonais do mundo em que vivemos talvez sejam representadas por outra simbologia que nos abrange a todos… por exemplo: o início de um novo ciclo de vacinação anticovid que… para além da nova fórmula vem igualmente acompanhada pela irmã antigripal…

O aumento… ou não… das parcas reformas para dar hipótese às pessoas não pararem de comer…

Os anúncios mais ou menos velados do Presidente da Ucrânia que «agora sim!!!… estamos a reconquistar território ocupado mas… precisamos de mais armas»…

Um eminente desastre nuclear provocado por uns brincalhões que se entretêm a deitar abaixo tudo o que se ergue aos céus e deita fumo… quais guerreiros das ordens religiosas que nos tempos de antanho “varreram” o sul da europa e a península ibérica trespassando a fio de espada tudo o que mexesse…

E… muito mais existe por este mundo em crise que nos pronuncia a chegada de um outono nas suas múltiplas vertentes de análise… talvez não sendo descabido que pensemos a muito curto prazo na nossa sobrevivência enquanto gente e de uma forma universal porque isto de individualismos parece que já deu o que tinha a dar…

 

3 – O Outono… quadra que se presta à poesia… ao enaltecimento do amor… ao louvor à mãe natureza por mais um fim de ciclo produtivo… encontra-se desvirtuada por fatores que se tornaram contaminantes da nossa sociedade… transfigurando a sua própria génese e afastando as pessoas do seu natural percurso vivencial…

Constava nos manuais da escola pelos quais estudei que: “o homem é um ser eminentemente social e só em sociedade poderá viver” e… olhando para o percurso que fizemos até aqui chegarmos… aceito como boa esta definição de “social humano”…

A acomodação perante o desenrolar do nosso dia a dia a que somos compelidos pelo excesso de informação que nos chega… nem sempre fiável… diga-se… conduz a essa “prostração comportamental” que… nas vésperas de um anunciado outono não nos traz um horizonte luminoso ali para os lados do frio inverno que já é avistado acolá ao fundo do calendário…

No pós 2ª Grande Guerra surgiu uma nova teoria política que ficou conhecida pela “geopolítica da fome”… correntemente usada pelos mais fortes para dominarem os mais fracos e assim terem ao dispor mão de obra barata e obter a exploração dos recursos naturais dos ditos países do 3º mundo…

Agora já nasceu a geopolítica da sonegação energética que… tira o conforto aos países mais desenvolvidos da Europa Central e do Norte e corta-lhes a hipótese de crescimento económico… lançando o caos em sociedades muito desenvolvidas que são obrigadas a uma retração violenta no seu evoluir normal… estamos em vésperas do outono…

José Manuel Claro