Eu tinha cerca de 7 anos quando o conheci.
Costumava ir ao restaurante dos meus pais em Sines. Lembro-me dum homem sorridente que fazia barulhos esquisitos para me fazer rir.
Não tenho a certeza, mas lembro-me que lhe faltava um dedo. Uma das minhas actividades preferidas para matar o tempo era desenhar, a dele, a julgar pela perfeição e rapidez com que sem um dedo desenhava o pato Donald, já o era há muitos anos.
A minha mãe, de avental, touca e mãos à cintura dizia:
– Ana! Larga o Calinas, deixa o homem beber o café em paz!
E eu fingia não ouvir, não queria perder uma única dica. E ele, empenhado e paciente, explicava-me a importância das coisas da vida como as sombras, a coragem para fazer coisas feias antes das bonitas, e o mundo para além dos desenhos animados. E passávamos horas a desenhar por aqueles toalhetes fora.
Artigo completo na edição em papel de 07 de Maio de 2015, n.º 646