Bem Prega Frei Tomás…

Crónica da Quotidiana Vivência

 1 – «Faz o que ele diz, não faças o que ele faz», assim reza o aforismo popular que, por um motivo ou por outro, tenta separar as águas entre o socialmente correto aceite por todos, e os desvios quotidianos de uma qualquer prática.

Como igualmente diz o povo, «a língua não tem osso», evidenciando a facilidade com que certos líderes políticos expõem as suas ideias para governarem a sociedade em que estamos inseridos e a subsequente prática desses postulados referidos aquando das campanhas para os atos eleitorais, que se têm revelado bastante diferentes das medidas preconizadas.

Atualmente, a nossa sociedade vive mergulhada em lutas intestinas, majoradas por uma prática antiga e que se vai mantendo nos dias de hoje que são o resultado do «empurrar com a barriga», as necessárias medidas que garantam ao longo dos tempos uma estabilidade democrática que, invariavelmente, traria consigo a tal paz social que, hoje, se revelaria fundamental para enfrentarmos o período político que estamos a atravessar.

 

2 – Um Estado democrático, assenta a sua estrutura, nuns quantos pilares básicos que, são o garante das condições de igualdade entre os cidadãos: o direito, a saúde, a segurança e o ensino.

Sérgio Godinho na sua criação ‘Liberdade’ canta: «A paz, o pão, habitação / Saúde, educação / Só há liberdade a sério quando houver…»

Ao olharmos cá para dentro do País, fazendo um esforço para nos alhearmos, ainda que momentaneamente, dos cenário de guerra na Europa de Leste e no Médio Oriente, só para referir  os mais ativos e perto de nós, constatamos facilmente  que as políticas até hoje seguidas por sucessivos governos em relação a esses pilares garantes da democracia de um qualquer povo, conduziram-nos ao atual estado da nossa sociedade que mais parece uma casa de uma pobre família onde não há pão: «todos ralham e ninguém tem razão».

A situação a que chegámos, não surgiu da noite para o dia.

Já quando estávamos a cumprir o Serviço Militar, no longínquo Abril de 1974, e em conversas com os outros camaradas de armas, sobre o então desenrolar do dia a dia naqueles conturbados períodos pós ditadura, era opinião comum, consensual mesmo, entre nós, que, quando retomássemos a vida civil, havia uns quantos sectores a serem evitados: a medicina, o professorado, o direito e a integração nas forças de segurança.

De então para cá, já lá vão cinquenta anos, basicamente as coisas não evoluíram muito no seu aspeto estrutural, tendo-se registado unicamente umas adequações insuficientes no campo material.

 

3 – Nestes últimos dois meses, temos assistido a um agudizar de conflitos socias que, precisamente, têm o seu epicentro naqueles mesmos pilares que acima definimos como basilares.

As manifestações sucedem-se, levadas a cabo pelos cidadãos ligados àquelas áreas que referimos, manifestações essas feitas a qualquer hora, em qualquer lugar a que se desloque um lídimo representante da República que, apesar de estar em gestão, não perde por isso a sua qualidade de representante governamental.

Digamos que o ambiente até aqui vivido, poder-se-á definir com estando em «banho Maria», para utilizarmos o termo culinário que se refere a um “cozinhado lento e em indireto contacto com a fonte do calor”.

Até que… a coisa chegou ao futebol e aos atos eleitorais.

Soaram as celestiais trombetas, tudo o que eram alarmes dispararam e, até aos sagrados domingos se atarefaram em reuniões consecutivas para se definirem o que é que, o como e o quando.

Coincidências? Talvez.

Mas quando uma força policial se desculpa com as horas perdidas nas longas filas de espera nas urgências hospitalares para faltarem ao serviço, não será um bater no fundo, será antes uma implosão.

E quando se pôs em causa a realização do ato eleitoral agendado para dez de março? Como que ameaçando o ganha pão daqueles que com uma enorme barriga andam há décadas a empurrarem as situações agora postas em causa, sem as tentarem minimamente resolver.

Lembrei-me do Frei Tomás.

 

José Manuel Claro