CONFLITOS PARA DAR E VENDER

CRÓNICA DA QUOTIDIANA VIVÊNCIA – José Manuel Claro

 1 – Há alturas da nossa vida em que o real e o irreal, o maravilhoso e o fantástico, se misturam numa miscelânea quase que incompreensível para o ser humano.

Aconteceu no sul da Rússia e da Ucrânia, por estes dias, quando uma enorme tempestade de neve se abateu sobre o palco bélico da disputa territorial entre estes dois Países, provocando dezenas de mortos e feridos e deixando três milhões de russos privados de energia elétrica, sendo que no lado ucraniano, as autoridades contabilizaram mil e quinhentas localidades privadas de energia.

Perante um cenário de catástrofe provocada pelas duas potências beligerantes, sobrevieram as forças da natureza, com uma intensidade nunca vista por aquelas paragens segundo informação russa.

Não deixa de ser premonitório, este episódio ocorrido naquela fustigada zona do globo, vítima da ambição humana desmedida, de um incompreensível ato de disputa pela força, do acesso ao Mar Negro. Rezam as notícias até nós chegadas, que apesar das fortes tempestades que certamente se farão sentir no Inverno que está à porta, os beligerantes domiciliaram agora as suas beligerâncias, na frente leste entre os dois Países.

 

2 – Na faixa de Gaza, como resultado do ataque terrorista perpetrado pelo HAMAS no início de novembro, as forças militares de Israel, continuam como que varrendo o território palestiniano, fazendo tábua rasa dos acordos internacionais que conferem o direito de existência a Israel e à Palestina, enquanto nações soberanas e independentes.

Registaram-se por estes dias, alguns abrandamentos no conflito, a coberto de um cessar-fogo para permuta de prisioneiros que, para além de envolverem seres humanos, incluem igualmente os fornecimentos de medicamentos, alimentação e combustível, cortados por Israel aquando do início da ofensiva.

Pelo mundo ocidental multiplicam-se os esforços diplomáticos daqueles que querem encontrar uma solução mediada para a resolução do conflito e que veem nesta trégua, um possível início dos acordos mediados, que irão tentar estabilizar no futuro, aquela conturbada região.

 

3 – Entretanto, as ondas de choque destes dois conflitos às portas da Europa, não param de influenciar as sociedades europeias que, fruto da invasão quase descontrolada de refugiados oriundos dessas zonas de confronto estão, de sobremaneira, a afetar o normal desenrolar do quotidiano das sociedades junto das quais conseguiram refúgio.

Basta reparar nas manifestações pró Israel e pró Palestina, que vão acontecendo, quase em simultâneo por toda esta velha Europa.

Sendo um conflito não muito complexo de se compreender, o atualmente vivido lá para as bandas do Médio-Oriente, e em que as grandes centrais de informação ou desinformação, tentam mesclar com as cores da sua conveniência, já não será de tão fácil entendimento, a compreensão de certas posições oficiais dos países ocidentais.

Tendo este conflito uma génese religiosa, ela não se vê refletida na maioria dos países do velho continente, que estão subjugados por uma política económica que os impede, inclusive, de deitar água na fervura, como diz o povo e até a um certo fechar de olhos para a tragédia que se está a desenrolar não muito longe das nossa fronteiras.

Essas posições dúbias, até agora mantidas, condicionarão a breve trecho, a política seguida pela União Europeia, com reflexos no acelerar da decadência do bloco ocidental.

Quanto ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, ele está a fazer-se sentir, igualmente numa forma incisiva nas economias europeias que, até ao presente alimentaram essa guerra com os excedentes de material bélico desatualizado e existente nos seus paióis, mas, está a chegar a hora em que se torna socialmente incompreensível que, por intervenção encapotada sob o manto americano, estejamos a pôr achas numa fogueira em que corremos o risco de nos queimarmos, enquanto bloco comunitário.

Nesta quadra, em que se propala a paz e a concórdia entre os povos, está evidente que de boas vontades não está o mundo cheio.

Quer queiramos, quer não, o nosso Natal vai sempre ser vivido sob este estigma de vermos a barbárie que campeia por este mundo, a sobressair e como que a obstar, aos verdadeiros caminhos da paz e da concórdia.                                     José Manuel Claro