FÉRIAS? INDÍCIOS… SÓ INDÍCIOS!

CRÓNICA DA QUOTIDIANA VIVÊNCIA – José Manuel Claro

1 – Quase que me atreveria a dizer que a nossa quotidiana vivência, é pautada por indícios que, consoante as situações, poderão ter complementaridade, ou então, quedarem-se por aquilo mesmo quando se revelaram… só indícios.

Sociologicamente será interessante uma análise aos comportamentos dos diferentes estratos sociais que, de uma forma empírica e usando um traço muito largo, muito largo mesmo, quase esboço, eu me permitiria dividir a nossa sociedade em três grandes grupos: os mais novos, estudantes e candidatos ao primeiro emprego, os que têm uma ocupação ativa no mercado de trabalho, ainda que sujeita às incidências do mesmo, precaridades, e os etariamente mais avançados e como tal já retirados da vida ativa e já reformados.

Evidentemente que nestes esboços de sistematização, depois, cada grupo subdividir-se-á em múltiplos subgrupos, de acordo com as especificidades de cada conjunto de pessoas.

Uma coisa existe, que atinge por completo cada um dos grupos, os indícios definidores de uma alteração do dia a dia em que se movimentam esses referidos grupos.

Será o que se passa com a época de férias que, nos fins primaveris, começa a anunciar-se e como que a vender os paraísos ao quilo.

Grupo mais premiável, o da população dita ativa, onde se encontrará o maior poder económico e como tal, uma maior hipótese de provocar, ainda que por curto espaço de tempo, uma mudança quase radical no seu quotidiano.

 

2 – O segundo grupo, mais recetivo a uma mudança de práticas diárias, será composto pela juventude que estuda ou procura o primeiro trabalho e que com o advento das férias escolares e o início da época dos festivais ditos de música, vai arranjando uns cobres da parca mesada e uma ou outra ocupação muito ocasional, rara mesmo, que, aliada à proverbial arte do desenrascanço, lá vai permitindo uns certos devaneios emancipadores.

Os festivais de música, são como que o leitmotiv de uma emancipação, ainda que fugaz, da soberana asa familiar, que acompanha essa juventude até cada vez mais tarde, a fazer fé nas estatísticas recentemente publicadas.

Aqui chegados, já deu para se ver que toda essa universalidade social, numa forma assaz tosca e grosseira com que nós a sistematizámos, sofre do ataque desses indícios de mudança de quotidiano, de uma forma subjugada ao poder económico que caracteriza, cada vez mais vincadamente cada um desses estratos.

No caso do nosso País, em que todas as classes sociais têm sido atingidas pelas constantes reduções do poder de compra, a resposta a esses indícios, como que constituem autênticos prodígios de equilíbrio financeiro do orçamento familiar, aqui e ali desmoronado pelo recurso ao crédito imediato que, de imediato, nada tem.

 

3 – Surge sequencialmente, a abordagem ao último grupo daquela empírica segmentação social caracterizada na presente crónica, grupo este que, de uma forma quiçá alarmante, está a constituir-se como o maior no seio da nossa sociedade.

De poder económico mais reduzido, utilizando todos os meios materiais disponíveis do seu rendimento, para a sobrevivência quotidiana, só uma pequena minoria aspira às tais férias, nome pomposamente dado a uma circunstancial alteração da rotina diária ao qual, os mais vividos, denominam de mudança de ares.

Exceções? Sempre as houve e haverá e poderíamos aqui citar, a título de exemplo, uma, que conhecemos relativamente bem, a daquele reformado, que virou jornalista por formação académica e escritor por opção, que vive num paraíso encravado entre a serra e o mar e a quem os indícios recebidos se traduzem num Festival de Músicas do Mundo, a anunciar as férias, e a duas feiras – a Feira de Agosto e a Feira do Monte – como que a pronunciar o regresso ao trabalho.

Nesse ínterim, a prática obsessiva da escrita intervalada com uma ou outra banhoca nas salsas ondas costeiras, digamos que tem a mudança de ares mesmo ali à mão!

Mas, é chegada a hora de voltarmos ao trabalho e convívio com os nossos leitores.

José Manuel Claro