O mundo está suspenso com a existência de um vírus que a todos insiste em mandar para casa. O que nós vemos em todo o lado é: Fique em casa. Vemos como somos mandados a ficar em casa para que fiquemos protegidos do contágio a que estamos sujeitos no meio da sociedade.
Descobrimos coisas muito interessantes; o mundo reabilita-se e nós descobrimos que temos vizinhos e com eles partilhamos os mesmos interesses.
A natureza refaz-se porque a poluição diminuiu. Os carros pararam e escondem-se em garagens e parqueamentos.
Em muitos bairros as pessoas começam a contactar-se de janela em janela, de varanda em varanda. Descobrem-se vizinhos com talentos que eu nem imaginava que tinham.
Os médicos, enfermeiros e pessoal de apoio nos hospitais desdobram-se em turnos, abandonando a própria família para não os contagiar e dormem mesmo fora de casa. Entregam a sua própria vida, cumprindo o seu juramento, para salvar vidas.
O pessoal dos lares e centros de dia correm, num redopio para chegarem a todos os lares onde se encontram idosos que precisam de apoio para o que é mais básico.
O medo circula entre todos estes profissionais, que baixinho segredam uns para com os outros: “quando apanharemos isto um dia…”, mas continuam na sua tarefa de ir ao encontro dos mais débeis.
Os Padres cumprem a sua missão de evangelizar desdobram-se os números de Missas e acções por meio das redes sociais. Não podendo esquecer e sentindo a falta das suas comunidades. Os catequistas e outros ministros nas comunidades ficam em casa ou nos seus empregos pensando: “que falta me faz o meu encontro com os meninos/pessoas/doentes”. A caridade, essa é que não cessa.
O grupo Cáritas continua com os seus voluntários a entregar bens alimentares aos mais necessitados, enfrentando o medo, e chegando a todos.
Esta ditadura que nos invadiu e que eu deixei que me dominasse não me destruirá. Esta ditadura deste vírus que me encheu de medo, também me ajudou a encontrar o outro de um modo diferente. Agora já parei para olhar. Já não estou no corre… corre. Agora quero alguém para abraçar e acarinhar e não tenho.
Mas a esperança vai diluindo este medo e este sentimento de falta. A esperança coloca-me um caminho que tenho de percorrer. Agora resguardo-me para depois abraçar o mundo. Voltar a viver com aqueles que amo e com os quais quero fazer comunidade. Alargando o leque daqueles que amarei no futuro breve.
Artigo completo disponível na edição de 02 de Abril de 2020, n.º 759*