Opinião: O cordão umbilical

Opinião - Paula Canha

Opinião - Paula CanhaPor Paula Canha, 

Somos primos das águias e dos pinheiros, netos das medusas e das bactérias. Isto torna-se evidente quando, nas minhas aulas de Biologia, explico aos meus alunos como é muito mais aquilo que nos une do que aquilo que nos separa.

As nossas células falam a mesma linguagem das células de qualquer outro ser vivo. É por isso que conseguimos inserir um gene de DNA humano numa bactéria e ela produz insulina humana, que permite aos diabéticos uma vida de qualidade. Por exemplo, o código GUA significa uma molécula chamada valina, tanto numa bactéria, como numa figueira ou no ser humano. Qualquer ser vivo compreende o mesmo significado daquelas três letras do código genético.

E esta é apenas uma face do padrão comum que encontramos em todos os seres vivos e que nos diz algo tão simples como isto: temos todos antepassados comuns, somos todos da mesma família. E isto remete-nos para algumas ideias simples, mas essenciais.

Viver separado da natureza não é natural. A começar na mais tenra idade, é preciso mexer na terra, correr na areia, mergulhar
no rio, respirar o ar da floresta, abraçar as árvores e ouvir os pássaros. Fazemos parte desta família, é essencial manter este cordão umbilical ligado.

A água que nos constitui circula entre os seres vivos e entre estes e o resto do planeta. Mais de 70% do meu corpo é água, e muitas moléculas de água que agora me constituem provavelmente estariam, no mês passado, no mar, numa nuvem, num elefante africano ou num aquífero, no seio de uma rocha.

Artigo completo na edição em papel de 22 de outubro de 2015, n.º 656