Opinião: A Quaresma e o “culto” do sofrimento

Opinião - Joaquim Marques

Opinião - Joaquim MarquesPor Joaquim Marques,

A Quaresma (os 40 dias que vão da Quarta-feira de Cinzas até ao Domingo de Ramos) é um tempo em que somos convidados a contemplar os sofrimentos associados à condenação e Paixão de Jesus.

Por vezes parece haver um culto quase mórbido do sofrimento, considerando-se este como a forma e o processo pelo qual Jesus nos salva. Assiste-se muitas vezes a um sublinhar enorme do sofrimento físico na sua dimensão quantitativa como se se tratasse de um mérito diretamente proporcional à dor suportada, na qual Jesus se comporta estoicamente, absorvendo sofrimento sobre sofrimento, até ao limite do possível, e aí é que estaria o seu valor (veja-se, por exemplo, o filme “A Paixão”, de Mel Gibson).

Mas, ao contrário do que o conceito de “redenção” muitas vezes incorpora (resgate), a salvação operada por Cristo não tem implícita uma ideia de reparação, vingança ou ira de Deus que era preciso aplacar. Não pode ser entendida como “em vez de nos castigar a nós homens pecadores, castigou Deus a Cristo que assim pagou por nós”. Não! Se Jesus é Salvador, é toda a sua vida que é salvadora, da incarnação e nascimento até à Ascensão. E o sentido de cada um dos passos da sua existência, especialmente o da Paixão, é indissociável de todos os restantes.

Artigo completo na edição em papel de 04 de Junho de 2015, n.º 648