PARA QUEM AINDA NÃO DEU POR ISSO…

CRÓNICA DA QUOTIDIANA VIVÊNCIA – José Manuel Claro

 1 – O Outono chegou no passado dia 22 de setembro.

Consigo arrasta a época das colheitas, para aqueles que ainda tiverem algo para colher e não viram os seus parcos haveres agrícolas, dizimados por uns quantos incêndios, que evidenciaram à sua passagem, toda a incúria e desleixo e, já agora, porque não, a estupidez natural de umas quantas pessoas que se tornaram especialistas em aproveitar com algum oportunismo político, o modo como este País tem andado a ser desgovernado. Só faltou descarregar sobre as chamas, o excedente orçamental produzido por uma incompreensível poupança de meios não postos à disposição de uma população empobrecida, e cada vez mais carente do básico, para a sua sobrevivência.

Se o cenário não fosse confrangedor para aqueles que no sossego do seu lar, se entretiveram a ver os abnegados esforços daqueles outros que davam tudo, por vezes até a própria vida, para combater os incêndios, quase que sentiríamos vontade de sorrir perante a vaporização da água descarregada pelos aviões que, quase às cegas, tentavam arrefecer os focos que, entretanto, proliferavam por toda a parte, propagados pelo esvoaçar das folhas do eucalipto incandescentes que percorriam quilómetros levadas pelo vento.

 

2 – Não será nosso objetivo com esta crónica, crucificar todos aqueles políticos que autorizaram o plantio desordenado daquela infestante resinosa oriunda do outro lado do mundo, mas, agora aqui chegado e como cidadão responsável, permitam-me uma sugestão: porque não arrancar pela raiz toda aquela ‘amálgama eucalíptica’, desordenadamente disseminada, por tudo o que é canto deste jardim à beira mar plantado? Haverá espaço para o plantio do eucalipto? É evidente que sim, desde que seja feito racionalmente e respeitando as suas características.

Se bem puderam observar, de todos os meios postos à disposição do combate, os mais eficazes foram as máquinas de rasto que dia e noite abriram aceiros corta-fogo, que era uma coisa que já deveria estar feita aquando do plantio desordenado do eucaliptal.

Enquanto os aviões sobrevoavam as zonas mais críticas e perante a sua inoperacionalidade, assistimos ao desespero das populações abandonando todos os seus haveres, impotentes para fazerem face a um disseminar dos novos focos de incêndio, vendo o seu trabalho de toda uma vida, esfumar-se em cinzas.

3 – Contudo, enquanto andávamos às voltas com a tragédia incendiária caseira, lá fora, os cenários de guerra quase que se reproduziram à mesma velocidade dos ditos incêndios.

A Ucrânia construiu e mantém, um cenário de diversão, com a invasão de uma parte da Rússia, como forma de aliviar a pressão sobre o cenário de guerra já existente no seu território.

Israel atacou as bases do Hezbollah instaladas do sul do Líbano e tem dizimado milhares de vidas, para atingir aquilo que diz ser os arsenais do inimigo. Não satisfeito com isso, igualmente invadiu fisicamente o Líbano, e recorreu à sofisticação eletrónica, ao fazer explodir um elevado número de pagers previamente armadilhados, chacinando centenas de vítimas, facto que só por si, transcenderá o aspeto bélico, e certamente será aproveitado pelos argumentistas de Hollywood para cinematografarem umas quantas sagas abordando esses tristes acontecimentos.

4 – Por cá, o Outono, trouxe igualmente o regresso às aulas, época sempre marcante em qualquer sociedade, na esperança de prepararmos as novas gerações para um futuro melhor, mais risonho que este presente e que se apresenta falho de horizontes promissores para a humanidade.

Aqui, repetem-se os mesmos problemas surgidos em anos transatos, com a já crónica falta de professores e pessoal auxiliar, e as más condições físicas das escolas.

Na saúde instalou-se o caos, e nem recuando à última metade do século passado, temos registo de um tão elevado número de nascimentos verificados em ambulâncias.

Certas especialidades médicas entraram num descontrolo absoluto no que diz respeito ao rastreio e posterior tratamento das enfermidades. Apesar de tudo isto, permitam-me uma lembrança: «o Outono chegou!», contemplemos o mundo à nossa volta e meditemos na necessidade de deixarmos de ser meros espetadores, de sermos meros agentes passivos, a quem, mais dia menos dia, será apresentada a fatura para cobrança.                       JOSÉ MANUEL CLARO