DAVOS, UMA FEIRA DE VAIDADES E DE EMPREGOS

CRÓNICA DA QUOTIDIANA VIVÊNCIA

José Manuel Claro

1 – Militarmente o panorama mundial mantém-se. O novo ano começou, tal como o velho terminou, talvez a pequena diferença num cenário internacional em convulsão, seja ditada pelo encontro de Davos, o Fórum Económico Mundial, que se realiza no primeiro mês de cada ano e que contou com a sua primeira organização no ano de 1971, ano em que reuniu as sete maiores potências económicas do mundo, naquela pequena cidade suíça

Com essas reuniões, as maiores potências económicas, tentavam acertar as agulhas entre elas, sobre a evolução que deveria ser imprimida à economia mundial, num novo ciclo que se iniciava precisamente com esses encontros.

Com o passar dos anos, os pressupostos foram-se alterando e nos dias de hoje, o fórum que se realiza naquela comuna Suíça, no Cantão Grisões, funciona basicamente como uma criação de ‘lobbys’ e uma ou outra procura de emprego nas grandes organizações mundiais, por parte daqueles políticos para quem os países que até aí governaram, se tornaram demasiados pequenos para as suas ambições.

 

2 – A diplomacia dos necessitados, chamemos-lhe assim, tem usado estes últimos Fóruns Económicos Mundiais, como terreno propício à realização de encontros bilaterais que de uma ou outra forma, não têm sido conseguidos pelas vias dos canais diplomáticos normais instituídos internacionalmente.

Neste encontro de Davos, foram referenciados os esforços desenvolvidos por Volodymyr Zelensky, Presidente Ucraniano, para se encontrar com Li Qiang, Primeiro Ministro Chinês, aproveitando a presença intermediária de Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia.

Revelaram-se infrutíferos esses esforços, porque como foi insinuado pelos canais diplomáticos não oficiais, isso poderia ser internacionalmente interpretado com uma quebra da neutralidade por parte do bloco Chinês, o que violaria as posições assumidas, até hoje, por parte daquela potência mundial.

Tornaram-se caricatos os esforços para evitar o encontro, entre os dois líderes e até o tema principal levado ao Fórum pela República Popular da China, se afastou de todo e qualquer conflito ativo no mundo real em que vivemos.

 

3 – O tema apresentado ao Fórum, pelos Chineses, abordou a necessidade das Nações presentes, acordarem entre si, normativos comportamentais de posicionamento, perante a Inteligência Artificial (IA), uma tecnologia em desenvolvimento e em vésperas de dar um tremendo salto tecnológico com a introdução na sua programação do módulo matemático.

Ao jornalista, que tem por hábito e interesse pessoal, acompanhar estes desenvolvimentos que condicionarão a curto prazo e de uma forma drástica, a sociedade em que vivemos, confessamo-nos intrigados e não convencidos com as preocupações manifestadas pela República Popular da China, enquanto superpotência tecnológica.

Por cá, e numa escala muitíssimo menor, fomos, aqui há dias, confrontados com as posições dos professores do Ensino Superior, que acompanham os Mestrados e Doutoramentos a serem realizados pelos alunos inscritos nas suas escolas e que, perante a impossibilidade prática de se fazer frente aos trabalhos desenvolvidos pela IA, os professores concordaram em aceitá-los, desde que acompanhados por uma análise crítica ao seu conteúdo e da autoria dos alunos que se propõem à obtenção daqueles graus académicos.

Pela posição de facilitismo adotada pelos docentes, a quem compete a graduação superior das aptidões dos candidatos, poder-se-á antever o que já se configura no horizonte, quanto ao decréscimo de competências quanto ao grau académico exibido por cada um.

Aqueles que desempenham funções basicamente administrativas, com a introdução das novas tecnologias baseadas na IA, verão a curto prazo reduzido o seu acesso a uma profissão e a um desempenho junto da sociedade onde querem e, por direito próprio, têm lugar.

A substituição do homem pela máquina, não é uma utopia, é antes a dura realidade em que vivemos e para a qual não estamos preparados, nem temos conseguido antidoto.

Jornal 846 – Janeiro/24