NADA MUDOU… SÓ SE ALTEROU MOMENTANEAMENTE!…

– É da tradição… todos os anos, quando termina um Festival de Músicas do Mundo (FMM), lá vem a solene promessa: «para o ano eu não faço trabalho jornalístico sobre isto!».

Neste caso, o prometido não é devido, porque assim que ele surge no horizonte, não corro, mas sou dos primeiros a perguntar lá na redação do jornal, se querem algum trabalho e, perante a resposta que já sei de antemão qual será, agarro-me de imediato ao ‘mail’ e lá solicito a minha credenciação junto da organização do festival.

Não será fácil, direi mesmo, é difícil reportar um acontecimento de incidência diária, para um jornal quinzenal, mas sempre se vai tentando fazer ‘das tripas coração’, como soe dizer-se, e no fim lá será publicada a notícia e, já agora, mais uma Crónica de Quotidiana Vivência, talvez a parte mais fácil da ‘coisa’, porque deixará sempre transparecer no seu conteúdo, os ‘empapamentos espirituais’ sofridos ao longo de oito dias, oito noites, oito madrugadas, oito pôr-do-sol, sempre vividos ao som de ritmos e vozes, embalando a existência de um rústico, por opção de vida.

Olhando para as bancadas da imprensa escrita e da rádio, que mais não é do que uma imprensa sonora, constatamos de imediato que a cobertura do evento para os diferentes órgãos a que pertencem é sempre feita por uma equipa, o que se torna absolutamente necessário para a cobertura das festanças que o acrónimo alberga sob o seu manto e que se desenrola em permanência ao longo das vinte e quatro horas do dia.

 

2 – O FMM, festival de música por excelência e definição, efetivamente tem uma abrangência que vai muito para além das músicas de um mundo que tenta ser descoberto pelos espetadores que, ao longo da sua duração, tentam vislumbrar aqui ou ali, este ou aquele pormenor que lhe enriqueça o espírito e, porque não, o seu intelecto.

A parte de leão na organização vai, sem sombra de dúvida, para o musical que, debaixo da sábia batuta do seu principal organizador, Carlos Seixas, homem ligado à cultura e ao FMM desde o seu início, e já lá vão vinte e três edições, tem sabido com uma maestria digna dos melhores encómios, governar esta grande nau pelos, por vezes tempestuosos, mares da música.

O outro festival que ocorre em paralelo, é o que engloba algumas das outras diferentes formas de cultura para além do musical, e que têm por estes dias um papel que poderemos considerar de acessório, mas de grande relevância pelas abordagens que fazem aos diferenciados estilos e formas de expressão intelectual, e que vão preenchendo os hiatos verificados entre as diferentes programações musicais.

Lançamentos de obras literárias, sessões de divulgação científica, exposições de artes plásticas, uma feira do livro e do disco, com algumas obras que não se encontram ao dispor do mero consumidor nos habituais locais de consumo e ‘at last but not the least’, as artes de rua, em que este festival é pródigo e que, por si só, justificaria uma deslocação às ruas de Porto Covo e Sines, por estas alturas.

 

3 – Na abordagem feita nesta crónica, omitimos propositadamente a guerra, a fome, a escravatura e outros flagelos que fustigam este nosso, cada vez mais desequilibrado mundo, não que eles tenham acabado, parado ou sido de alguma forma interrompidos como aconteceria à época das olimpíadas gregas, bem pelo contrário! mas, entendemos nós dar uma trégua, ainda que fictícia neste espaço de crónica onde nos vamos encontrando quinzenalmente.

Referi até agora os múltiplos festivais que o FMM nos traz até ao nosso paraíso existencial, faltando-me, talvez, aquele que mais admiro e considero, o humano!

Que amálgama! Que caldeamento de raças e credos que sofre o mais anónimo andante pelo meio de toda aquela parafernália humana, que assenta arraiais por estas altura e por estas paragens, um exemplo dado ao mundo, se é que ele aceita exemplos, podendo desde já garantir que vivi esta multiculturalidade de gentios, de variadas cores de pele, trajes e modos de ser, como um auto enriquecimento intelectual.

No meio de tudo isto… no mundo… andei eu! e não resisti em vir-vos incomodar com mais este arrazoado silábico antes das férias!!!…

José manuel Claro

Leme 836 – Agosto 2023