PATAV assinala o dia internacional para a consciencialização do transporte de animais vivos

No passado dia 14 celebrou-se o dia internacional para a consciencialização do transporte de animais vivos. Por esse
motivo um grupo de 200 crianças, entre os 6 e os 14 anos, escreveu uma carta endereçada ao Presidente da República,
sensibilizados e preocupados com este tema e com a desumanidade com que muitos animais são tratados.

A iniciativa partiu de um grupo de crianças que reside em Sines e à qual se juntaram também crianças de vários pontos do país, incluindo Setúbal, ambos locais habituais de embarque destes animais.

A ação foi mobilizada em conjunto com o movimento cívico PATAV e com o programa Roots & Shoots Portugal, ao
qual as crianças de Sines pertencem. O Roots & Shoots é um programa internacional de ação para a juventude iniciado pela primatóloga Jane Goodall em 1991 na Tânzania e que existe atualmente em mais de 100 países e em Portugal desde 2006.

Neste projeto as crianças são convidadas a identificar áreas problemáticas da sua região no que concerne a pessoas, animais e meio ambiente e a levar a cabo iniciativas para os resolver.

Foi no âmbito destas atividades que uma criança de 8 anos residente em Sines identificou o problema do transporte de animais vivos a partir do Porto de Sines como um problema que gostaria de resolver e assim surgiu a carta que abaixo se transcreve:

“Senhor Presidente da República, Escrevemos esta carta para sensibilizar as pessoas sobre o tema do transporte de
animais vivos para abate. Em Sines, perto de uma linda baía, acontece esta coisa horrível: transportam animais em condições que nenhum ser vivo devia conhecer na sua vida. Os embarques e desembarques causam muita
ansiedade nos animais, então há animais que caem ao mar, tentam fugir, levam com paus ou bastões elétricos e quando estão feridos não têm cuidados de saúde nem um médico veterinário a bordo para os ajudar.

Esta triste realidade não acontece só na nossa cidade. No Porto de Setúbal, os animais são tão desrespeitados como
aqui.

Durante dias e dias, vacas e ovelhas viajam em barcos todos apertados, sem espaço nem higiene, como mereciam.
Nestas viagens em alto mar, acontecem muitas agitações das ondas, onde os animais caem, partem patas e causam
ferimentos uns nos outros. E depois de tanto sofrimento vivido nestas viagens, chegam a países onde serão mortos para consumo.

As pessoas que fazem isto não têm coração.

O que queríamos com esta carta, era que Portugal deixasse de transportar os animais para esses países. Alguns de nós,
conseguimos ver o Porto de Sines de nossa casa e gostávamos de olhar para ele e saber que conseguimos livrar o nosso país deste peso.

Contamos com a sua ajuda e ajudaremos no que for preciso”.

Ainda sobre este tema ouvimos Constança Carvalho, membro da PATAV, que nos referiu: «A exportação de animais vivos por via marítima começou em 2015 e tem tido um crescimento exponencial no nosso País. Nestas viagens, milhares de animais (ovinos e bovinos) enfrentam viagens de 2 semanas no porão de navios rumo a Israel para serem abatidos. Os embarques são frequentemente marcados por violência gratuita exercida contra os animais, muitas vezes em manifesta violação do disposto no regulamento comunitário 1/2005 que regula este tipo de transporte. Algumas
das ilegalidades mais frequentes são o uso de bastões elétricos de forma repetida no mesmo animal, puxar os animais pelas orelhas, cornos ou pescoço, rampas desniveladas que provocam quedas.

À chegada a Israel, os animais apresentam-se desidratados, cobertos por uma crosta fecal, alguns cegos (devido às
concentrações de urina) e feridos».