Sínodo: Relatório de síntese mostra amplitude do debate, entre consensos e questões em aberto

Primeira sessão sinodal apontou a novas formas de participação e abertura, ao serviço da Igreja e da sociedade

O relatório de síntese da primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo, apresentado hoje no Vaticano, mostra ao longo de 40 páginas a amplitude do debate, entre consensos e questões em aberto.

O documento, publicado em italiano, após mais de três semanas de trabalhos, apresenta o consenso alargado dos participantes – todos os pontos foram aprovados com, pelo menos, 80% de votos favoráveis –  sobre o papel das mulheres, o ministério dos bispos ou o ecumenismo, entre outros.

“O grito dos pobres, dos que são obrigados a migrar, dos que sofrem violência ou sofrem as consequências devastadoras das mudanças climáticas ressoou entre nós, não só através dos media, mas também das vozes de muitos”, refere a abertura do documento.

O texto, divido em três partes, abre caminho para o debate a realizar nas comunidades católicas, antes da segunda sessão desta assembleia sinodal, em 2024.

Os participantes sublinham a “abertura para ouvir e acompanhar todos”, para valorizar diferenças e promover um maior envolvimento dos católicos na vida da Igreja.

A situação de migrantes, pessoas em situação de pobreza, indígenas, vítimas da guerra e de vários tipos de abuso, de racismo ou de tráfico humano são recordados pelo texto, destacando que, na Igreja, “a opção pelos pobres e descartados é uma categoria teológica antes de ser cultural, sociológica, política ou filosófica”.

Após abordar temas ligados às comunidades católicos do Oriente e ao ecumenismo, o relatório destaca a “igual dignidade” de todos os membros da Igreja, defendendo maior participação dos leigos, em especial das mulheres.

Os participantes denunciaram a persistência de atitudes de “clericalismo, machismo e uso desadequado da autoridade”, na Igreja, convidando a “um diálogo entre homens e mulheres sem subordinação, exclusão ou competição”.

O texto dedica várias passagens ao acesso das mulheres ao diaconado, a questão que mais dividiu as votações, com apelos ao aprofundamento da “pesquisa teológica e pastoral” sobre este tema, a partir das comissões criadas pelo Papa.

O documento sublinha a necessidade de “garantir que as mulheres participem nos processos de tomada de decisão e assumam papéis de responsabilidade”, rejeitando a discriminação e a exploração femininas, inclusive de consagradas, na Igreja.

Outro tema abordado foi o do celibato sacerdotal, que os participantes dizem que deve “ser aprofundado”, em particular no que diz respeito à sua obrigatoriedade, como disciplina na Igreja de rito latino.

A sessão sinodal dedicou uma reflexão alargada à figura dos bispos, considerando que a sua missão deve ser exercida numa atitude de “corresponsabilidade”, dando como exemplo a questão dos abusos, em que se propõe a possibilidade de confiar tarefas judiciais a outro órgão de instituição canónica.

A assembleia pede que se inicie “uma verificação dos critérios de seleção dos candidatos ao episcopado”, equilibrando a autoridade do núncio apostólico com a participação da Conferência Episcopal local, além de ouvir um maior número de pessoas, neste processo.

A formação dos futuros padres, com atenção à “educação afetiva e sexual” é uma preocupação sublinhada no documento, destacando que o sacerdócio deve ser visto como um serviço e não um “privilégio”.

Ao contrário do que aconteceu com o documento de trabalho (Instrumentum Laboris), que resultou da consulta global lançada em 2021, pelo Papa, o relatório de síntese evita referências diretas às pessoas LGBT, admitindo “questões novas” relativamente “à identidade de género e à orientação sexual”.

A assembleia convida a uma escuta “autêntica” das “pessoas que se sentem marginalizadas ou excluídas da Igreja, por causa da sua situação conjugal, identidade e sexualidade”, sugerindo também ao SECAM (Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar) que promova “um discernimento teológico e pastoral” sobre “o acompanhamento de pessoas em uniões poligâmicas que estão a chegar à fé”.

A relação da Igreja com o mundo das tecnologias de comunicação levou à proposta “reconhecimento, formação e acompanhamento” para “missionários digitais”, criando “redes colaborativas de influencers”.

Os trabalhos da primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’, iniciados a 4 de outubro, encerraram-se esta tarde com a aprovação do documento de síntese; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.

A assembleia sinodal, presidida pelo Papa, tem 365 participantes, entre eles 54 mulheres,  a quem se somam, sem direito a voto, 12 representantes de outras Igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

A Conferência Episcopal Portuguesa está representada pelo seu presidente e vice-presidente, respetivamente D. José Ornelas e D. Virgílio Antunes.

OC (Agência Ecclesia)