CRÓNICA DA QUOTIDIANA VIVÊNCIA – José Manuel Claro  

UM DIA INTERNACIONAL COM VOOS RASANTES

1 – Esta crónica, foi escrita na semana em que se comemorou mais um ‘Dia Internacional da Mulher’, efeméride que ostenta em si, tudo o que mais de negativo e pejorativo, uma comemoração dessas poderá acarretar no contexto social em que se desenrolou e desenrola.

Abomino dias disto, daquilo e daqueloutro, em que finda a festa, aqui entenda-se por festa as comemorações que alguém entendeu promover naquelas datas, tudo volta ao mesmo rengue-rengue existencial sem alteração nenhuma visível, ao nível do socialmente substantivo que motivaram essas ditas comemorações.

Cada vez mais, este dia, está a tornar-se um fenómeno de marketing, oco de sentido, em que através de umas quantas organizações de jantares predominantemente femininos para não dizer exclusivamente, vão incluindo aqui e ali uma ou outra sessão de strip masculino.

Gostos não se discutem, mas eu adoraria ter por cá a minha outra metade com que pudesse comemorar a data na companhia dos nossos filhos que, aí sim, simbolizariam o louvor à igualdade dos géneros, enquanto filhos do casal, uma vez que deverão a vida à mãe e ao pai que os conceberam, certamente num ato de amor igualitário.

 

2 – Nas vésperas do dia referido e nos subsequentes ao do ‘festejo’, fomos como que sobrevoados por uns voos rasantes da aviação comercial de bandeira, aqui entenda-se a nossa bandeira.

Mas será que na Administração Pública, ninguém se enxerga e pára de parodiar o simples cidadão que, geralmente, no meio de tudo isto, é quem tem todos os impostos em dia, massacrando-o com estúpidas evidências dos fenómenos corruptivos que inundam o nosso quotidiano?

Num dia, despedidos sem indemnização, noutro já com direito a uns quantos milhões proporcionais ao desempenho conseguido e aos objetivos alcançados e, fruto da inépcia, talvez irresponsabilidade e ignorância, para ser mais explícito, de quem despediu a equipa de gestão que, à semelhança de muitas outras coisas, alegadamente nos casos das contratação por parte da Câmara de Lisboa de um ‘fiscal de obras’ oriundo das Beiras, de um fornecimento de identidades de uns quantos manifestantes à Rússia, desconhece que quem pode despedir os agora visados, será a Assembleia Geral da Companhia que ainda nem convocada foi.

Resultado de tudo isto – lá vem a tal indemnização por despedimento indevido.

Como se tudo isto não bastasse, apareceu a cereja no topo do bolo, a tal Gestora da Companhia, depois Gestora do Instituto que supervisiona a Companhia e Secretária de Estado por vinte e quatro horas que, num ‘arrobo de honradez’ lá se foi mostrando disponível para repor os ditos quatrocentos e cinquenta mil carcanhóis recebidos a mais e, por isso, indevidamente.

Um autêntico Egas Moniz de saias, que se prejudica a ela própria para salvar a honra de um Estado pútrido.

Façamos bem as contas, o IGF diz que a senhora seria credora de cinquenta mil euros, ela mostra-se disposta a devolver a restante parcela e aqui saltou-me a momentosa questão: e os honorários da equipa de advogados que a dita senhora contratou para negociar essa tal de indemnização, empresa que geralmente trabalha como todas as outras, na base de uma percentagem sobre o valor indemnizatório conseguido?

Será que o dono dessa empresa trabalha na base da generosidade, como a patenteada quotidianamente pelo seu irmão, o atual Presidente da República.

 

3 – «Também tu, Burrus?», célebre frase pronunciada por Nero antes de ser envenenado com uma cicuta fornecida pelo seu pedagogo, esse tal de Burrus.

Já agora, a talhe de foice motivada por esta citação, o chamar-se burro a uma pessoa,  não poderá ser em circunstância alguma ofensivo, porque ‘Burrus’ era um homem sapiente, um pedagogo de reconhecida competência que bem se esforçou, sem sucesso adiante-se, por fazer de Nero uma pessoa que ficasse para a história como imperador e não como incendiário.

Quando lá pela antiga Roma queriam desqualificar alguém, usavam o termo ‘asinus’ que a semântica tradutora transformou em asnos no nosso atual dialeto, e noutras catalogações sociais que por aí proliferam.