AINDA… AS ELEIÇÕES

CRÓNICA DA QUOTIDIANA VIVÊNCIA – José Manuel Claro

1 – Já passaram uns dias, mas as ondas de choque ainda se fazem repercutir na nossa sociedade.

Como em qualquer eleição, uns ganharam outros perderam e, convenhamos que daí não advirá mal ao mundo em que vivemos se considerarmos a normalidade democrática instituída no nosso País.

Houve os eleitos, os que não conseguiram sê-lo e, por estas alturas perguntar-se-á, então e qual a razão de ser, a esta distância, ainda se notar na nossa sociedade uma certa crispação resultante de um ato mais que democrático, que inaugurou uma nova metodologia de voto, que facilita imenso o expressar das nossas vontades quanto às linhas mestras que deverão clarificar e condicionar a condução do País, num futuro próximo?

Pois garanto-vos que tem sido um atassalho nos diretórios dos partidos, uns proclamando a toda a hora os seus bons resultados eleitorais obtidos e os outros, os menos votados, a criarem novos factos políticos que prendam a atenção do povo eleitor a temáticas que os afastem do sucedido, como que querendo varrer o lixo para debaixo da carpete, repito, tudo isto resultante de um ato democrático e que decorreu de uma forma normal. Certamente, que estas eleições vieram pôr a nu a falência de certos discursos políticos praticados na nossa praça e que, desta vez, tiveram o condão de evidenciar o facto de que o rei ia nu.

2 – Não foi a primeira vez, e esperamos que não tenha sido a última, que o povo quis emendar a mão de uma decisão que tomou em anteriores atos eleitorais e, seguindo a sua máxima de que mais vale tarde do que nunca, tendo-se expressado de uma forma assaz diferenciada à boca das urnas neste último ato eleitoral, em relação ao sufrágio anteriormente ocorrido para as legislativas.

Toda esta situação vem pôr em evidência a oratória e a prática política praticada por certos agentes políticos quando em campanha e que, recorrendo a meios artificiais de manipulação da opinião pública com recurso a assessorias externas pagas a peso de ouro, conseguem por vezes galvanizar o eleitorado, ainda que circunstancialmente.

Se nos lembrarmos das técnicas então praticadas pelos partidos que não conseguiam fazer arruadas significativas, nas penúltimas eleições, as legislativas, e que então optaram por recorrer a almoços e jantares oferecidos, que mais se assemelharam a reuniões de venda ‘tupperware’, em que de uma forma mais pessoalizada tentaram passar as virtudes do ideário que queriam vender.

Entretanto, certamente, outros fenómenos sociais terão surgido e que ditaram as radicais mudanças agora constatadas, mas, a breve trecho, surgirão muitos estudos sociológicos interpretativos das diferenças de voto verificadas do penúltimo para o último ato eleitoral.

Lá virá a estafada, por repetida milhentas vezes, ladainha de que não se poderá extrapolar os resultados destas eleições para o cenário herdado das últimas legislativas, como se o voto que expressámos, não fosse igual nas duas votações e, pior que isso não nos tivesse custado os olhos da cara, independentemente da intenção nele manifestada.

3 – Foi posta agora a correr nos media, a ideia de que nenhum dos partidos do arco da governação, órbita do poder, que tem o seu espaço sideral no hemiciclo de S. Bento, terão o mínimo interesse em que ocorram eleições antecipadas, visando a substituição do governo existente.

E então, dão-se os mais esfarrapados argumentos justificativos para essas defesas da acalmia democrática chegando, quase em desespero de causa, a agitar os muitos milhões do PRR que se perderiam se houvesse um ressalto administrativo provocado por essas previsíveis eleições antecipadas.

Olhando para este argumento, entretanto suscitado, não encontramos razão plausível para o seu surgimento, para além do consequente modo diferenciado na repartição do bolo financeiro, disponibilizado pela Comunidade Europeia, distribuição essa feita pelos do costume e cujo campo de recrutamento varia de acordo com o partido que, à época, se mostra hegemónico e preside ao poder instituído.

Todo este burburinho, talvez fomentado pelo círculo próximo do Palácio de Belém, lança o espectro da incerteza sobre o nosso próximo futuro político, advertindo os partidos do dito arco do poder, de que, uma nova chamada às urnas, poderá originar o surgimento de mais um tsunami no espectro eleitoral, que se faz crer muito incerto, e pondo em risco o atual status de que gozam essas mesmas forças partidárias. A ver vamos e… já não falta muito.

Leme 856