Vozes do Além

Ana Jorge - Coisas de emigrante

Ana Jorge - Coisas de emigrantePor Ana Jorge, em Bergen, Noruega

Emigrar é quase como morrer no budismo: renasce-se do outro lado. Dão-nos a oportunidade de reaprendermos a andar, a falar e a aguentar, mas também de mudar – ou corrigir – as coisas que não fizemos bem na vida passada.

Chegamos à vida nova cheios de humildade, todos submissos e agradecidos. Trabalhadores, somos capazes de tudo, porque ninguém nos está a ver. Tornamo-nos capazes de fazer 32 camas de hotel num só dia e, ainda, trabalhar fins-de-semana no mercado do peixe

(Não vá um espanhol hippie gamar-nos o trabalho para poder ir andar aí no laró ou a viver fácil no país dele)

(Eu cá não, já não tenho idade)

(Eu cá quero ficar para além do inverno).

Aqui, na Noruega, nós portugueses temos boa fama. Temos fama de trabalhar muito e bem, e não cobrar horas extras, e pronto já estamos a estragar tudo, daqui a nada temos de emigrar outra vez.

O artigo completo na edição em papel de 20 de Junho de 2014, n.º 626