Ministro da Saúde anuncia requalificação de Centros e Extensões de Saúde do Litoral Alentejano

Helga Nobre

O Ministro da Saúde, Manuel Pizarro, dedicou um dia ao Litoral Alentejano, no âmbito da iniciativa Saúde Aberta, e anunciou investimentos nos centros e extensões de saúde da região, instalação de uma Escola de Enfermagem e prometeu resolver “ainda em 2023” o problema da falta de médicos de família.

A visita do governante, que se fez acompanhar pela Secretária de Estado da Promoção da Saúde, Margarida Tavares, e do Secretário de Estado da Saúde, Ricardo Mestre, aos cinco Concelhos do Litoral Alentejano, arrancou em Alcácer do Sal.

Aos jornalistas, o governante referiu que o périplo pela região serviu para conhecer os projetos em curso e identificar necessidades nas unidades do SNS e aproveitou para anunciar que os cinco Centros de Saúde e as “cerca de 30 extensões” do Litoral Alentejano vão ser requalificados, graças a financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

“Felizmente, no contexto do PRR, foi possível encontrar financiamento para fazer com que os cinco Centros de Saúde e as cerca de 30 Extensões de Saúde que existem nesta região sejam todas requalificadas”, afirmou o governante.

Lembrando que o Litoral Alentejano, formado pelos Concelhos de Alcácer do Sal, Grândola, Sines, Santiago do Cacém e Odemira “é uma zona muito vasta em termos geográficos, habitada por mais de 100 mil pessoas”, Manuel Pizarro reconheceu que “persistem problemas graves de acesso aos cuidados de saúde”.

“E nós vimos aqui precisamente dialogar e ouvir as pessoas, ouvir a população, ouvir os Autarcas”, para tentar procurar soluções para melhorar o acesso à saúde, quer nos cuidados primários, quer nos cuidados hospitalares”, explicou.

Além disso, realçou, trata-se também de “uma zona onde estão a ocorrer modificações muito significativas, nomeadamente devido ao fenómeno da imigração, que se está a generalizar em toda a região”.

“Essas pessoas são bem-vindas ao nosso país, nós precisamos delas, mas precisamos de criar condições para as acolher nos diferentes aspetos, com a dignidade necessária, nomeadamente na área da saúde e isso aumenta a pressão sobre o serviço de saúde, exige uma resposta própria que tem que ser agora articulada e tratada com todo o cuidado”, destacou.

A área das infraestruturas é uma das prioridades, segundo o Ministro da Saúde, com o PRR a possibilitar o financiamento da requalificação dos Centros e Extensões de Saúde, mas também que “sejam adquiridos e colocados em funcionamento novos equipamentos”.

“Por exemplo, viaturas de apoio domiciliário, que aqui são especialmente importantes. Dada a vastidão desta zona geográfica, o facto de haver muita população que vive de forma isolada e uma parte dessa população ser população idosa com dificuldade de mobilidade, essas viaturas também vão responder a estes problemas”, indicou o governante.

Por outro lado, “uma questão mais complexa passa pela atração dos profissionais de saúde”, segundo Manuel Pizarro, que se comprometeu a “procurar encontrar soluções que resolvam os principais problemas”.

“Um dos principais problemas que enfrentamos aqui é também o custo da habitação. Apesar de esta ser uma zona fora de um grande centro é uma zona onde, em função da pressão turística, o custo de habitação é muito elevado. Isso, naturalmente, cria muitas dificuldades na atração de profissionais”, admitiu.

Mas, o Ministério está “a trabalhar com as estruturas da saúde, com a Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano (ULSLA) e vai fazê-lo também com as autarquias para criar condições de alojamento que facilitem a atração de profissionais”, acrescentou.

Depois de visitar vários equipamentos de saúde nos Concelhos de Alcácer do Sal e Santiago do Cacém, durante a manhã, o governante dedicou a parte da tarde ao Hospital do Litoral Alentejano onde reuniu com o Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano, profissionais de saúde e autarcas.

No final da visita, em declarações aos jornalistas, Manuel Pizarro defendeu a instalação de uma Escola de Enfermagem no Litoral Alentejano para “atrair profissionais numa fase ainda precoce da sua formação”.

“Temos de atrair os profissionais para uma zona como esta, que está fora dos grandes centros, numa fase precoce da sua formação. Isto é temos de ter uma Escola de Enfermagem no Litoral Alentejano, não há nenhuma boa razão para que ela não exista e essa será uma forma de atrair enfermeiros para esta zona”, afirmou.

No seu entender, para “superar as dificuldades de fixação de recursos humanos nesta região, o SNS tem de ter capacidade de formar especialistas em medicina geral e familiar e nas especialidades hospitalares”.

E voltou a insistir que o Estado Central, a Unidade Local de Saúde e as Autarquias devem também promover “um programa de apoio à habitação”.

“Sendo esta uma região de baixa densidade populacional, o custo da habitação é igual ao custo dos grandes centros habitacionais porque há uma grande pressão do turismo”, frisou.

Ainda de acordo com o governante, a região debate-se com fenómenos demográficos “muito contraditórios que obrigam a diferentes respostas do Estado”.

“Ao mesmo tempo que há uma grande pressão de imigração, com pessoas mais jovens, com as quais temos algumas dificuldades, como por exemplo a barreira linguística, temos uma população envelhecida, em zonas rurais, com grande isolamento”, apontou.

Para esta população, indicou, o Governo vai “generalizar a rede das Unidades Móveis de Saúde, com um investimento do PRR [Programa de Recuperação e Resiliência], fazendo deslocar estes equipamentos com uma periodicidade fixa”.

“Esse é um trabalho muito importante e com os investimentos PRR não apenas em mais viaturas móveis, mas na melhoria da rede digital, esse trabalho pode ser complementado com uma ligação ao médico de família ou até com uma ligação ao médico de especialidade hospitalar”, frisou.

Durante a visita ao Hospital do Litoral Alentejano, em Santiago do Cacém, o governante foi ainda confrontado com um protesto das Comissões de Utentes dos Serviços Públicos do Litoral Alentejano a denunciar o elevado número de utentes sem médico de família, o encerramento de extensões de saúde e a falta de médicos especialistas na região.

Dirigindo-se aos utentes e, perante a desconfiança dos dirigentes em relação ao anúncio feito, durante a manhã, da requalificação dos cinco centros de saúde e das cerca de 30 extensões de saúde do Litoral Alentejano, Manuel Pizarro garantiu que regressará à região para “prestar contas”.

Mais tarde, aos jornalistas, reconheceu que ainda existem muitos utentes sem médico de família nesta região e avançou que o Governo está a “trabalhar para garantir que esta situação seja superada ainda em 2023”.

No Litoral Alentejano, existem cerca de 105 mil utentes do Serviço Nacional de Saúde, sendo que “cerca de 17 mil não têm médico de família ou atendimento nos cuidados primários por médico próprio”, explicou ainda o Ministro.