Uma equipa da Escola de Ciências da Universidade do Minho (UMinho)criou um gel para a libertação controlada de dois fármacos antitumorais, que pode beneficiar a eficácia terapêutica contra o cancro e a medicina personalizada.
A inovação, que envolveu ainda as universidades de Aveiro e Vigo, foi publicada na revista Advanced Functional Materials. Este nanomaterial injetável destaca-se dos já existentes ao aliar várias modalidades terapêuticas e a libertação espaciotemporal seletiva dos fármacos, através de impulsos de luz e magnéticos.
O material em hidrogel contém nanopartículas de lípidos, incorporando nanopartículas magnéticas (lipossomas) e de ouro. Ao aquecer as nanopartículas, usando um campo magnético alternado ou radiação infravermelha, e ao manipular os lipossomas com campos magnéticos, os cientistas conseguiram uma libertação controlada e direcionada de dois fármacos usados no tratamento do cancro (doxorrubicina e metotrexato). Este avanço pode vir a permitir ajustar a terapia a cada paciente, reduzindo os danos nos tecidos saudáveis, e permitirá avançar para estudos pré-clínicos.
“Além de ultrapassar várias limitações na administração de fármacos antitumorais, como a baixa solubilidade e biodisponibilidade, o gel possibilita controlar com precisão a sequência em que os fármacos são administrados”, avança o investigador Sérgio Veloso, que desenvolveu esta tecnologia no seu doutoramento em Física, após o mestrado em Biofísica e Bionanossistemas na UMinho.
Terapia multimodal
Esta terapia multimodal – combina quimioterapia, fototerapia e hipertermia magnética – resultou em laboratório num aumento da eficácia terapêutica. “É comum as células tumorais adquirirem resistência após sobreviverem a vários ciclos de terapia com um dado fármaco”, refere Elisabete Castanheira Coutinho, também investigadora do Centro de Física da UMinho. “A estratégia passa, assim, pela eliminação destas células que sobreviveram, expondo-as a um fármaco com um mecanismo de ação diferente”, acrescenta. No mercado já há géis deste tipo, mas não permitem a libertação seletiva de fármacos, nem a combinação de diferentes modalidades terapêuticas.
A investigação vai continuar com o desenvolvimento de materiais otimizados e mais baratos. “Queremos conceber novas vertentes do nanomaterial adaptadas a diferentes tipos de fármacos e condições dos pacientes e efetuar estudos pré-clínicos para avaliar a segurança e a eficácia do nanomaterial em modelos mais complexos”, conclui Sérgio Veloso.
Universidade do Minho
Aimprensa